Correio braziliense, n. 19769, 12/07/2017. Política, p. 4
Agora, o crivo do Senado
Marlla Sabino e Natália Lambert
12/07/2017
A sabatina da subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, marcada para hoje, às 10h, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, deve ocorrer com debates tranquilos e sem muitas provocações. Indicada pelo presidente Michel Temer para a vaga de Rodrigo Janot na Procuradoria-geral da República, ela agrada tanto a governistas quanto a oposicionistas.
Será a primeira oportunidade de Raquel Dodge se pronunciar publicamente sobre os rumos que pretende dar à PGR e ao combate à corrupção no Brasil.
O presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA), abrirá a sessão e dará a palavra à primeira mulher que está a um passo de assumir um dos postos mais importantes do país. Ela terá até 30 minutos para dizer como pretende lidar com a pressão de assumir investigações contra políticos suspeitos de corrupção — parte deles integrantes da comissão.
Na opinião do presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, a crise política, as investigações e a confusão por causa da reforma trabalhista não devem interferir na sessão. “São assuntos completamente diferentes”, apontou.
Depois, a palavra será dada ao relator, senador Roberto Rocha (PSB-MA), para que faça perguntas pelo tempo que achar necessário. Estratégia comum nesses casos, o relator se antecipa e faz as indagações mais polêmicas para esvaziar possíveis tumultos. Um dos principais questionamentos que Raquel enfrentará será o fato de ter sido escolhida por um presidente investigado, mesmo tendo sido a segunda eleita na lista tríplice dos procuradores da República.
A possível ligação política de Raquel com citados em investigações é tema da maioria das perguntas enviadas pela população ao site do Senado. Da manhã de segunda-feira ao início da noite de ontem, o portal e-Cidadania recebeu 42 questões. Cabe ao relator ler as indagações da sociedade para a sabatinada responder.
Superada a fase do relator, cada senador terá até 10 minutos para fazer perguntas. O tempo de resposta do sabatinado é o mesmo, tendo direito à réplica e à tréplica, por cinco minutos. Robalinho prevê que os questionamentos serão “duros” e “exigentes”, pois o cargo é de grande relevância. Na visão dele, Raquel está preparada. “É uma pessoa com história e capacidade técnica para o cargo. Ela passará por isso de forma tranquila”, argumentou.
Após a fase de interpelação, os membros titulares das comissões ou os suplentes votam, secretamente, a favor ou contra a indicação. Os senadores devem aprovar hoje mesmo um requerimento de urgência para que a indicação seja levada imediatamente ao plenário, onde é necessário o quórum mínimo de 41 votos favoráveis para que ela assuma o cargo. Se aprovada, Raquel substituirá Janot em 17 de setembro.