Título: Socorro de Japão e China
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Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2012, Mundo, p. 13
Dirigentes do Japão e da China decidiram ontem atender a qualquer pedido de financiamento feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que precisa de US$ 600 bilhões — mais do que o dobro da reserva atual de caixa — para ajudar os países da Zona do Euro a resistirem à crise. Após reunir-se com o vice-primeiro-ministro chinês, Wang Qishan, o ministro das Finanças japonês, Jun Azumi, disse que os dois países estão prontos para apoiar o FMI, mas acrescentou que serão necessárias medidas de austeridade adicionais. "O que concluímos é que os países europeus precisam se esforçar mais, embora a situação, incluindo a da Grécia, esteja se encaminhando bem", disse Azumi aos repórteres, em Pequim.
É esperado que a Grécia feche hoje um acordo para salvar o país do calote da dívida. Nos últimos momentos de negociação, dirigentes europeus expressaram confiança de que os ministros de Finanças dos 17 países da região, reunidos em Bruxelas, darão sinal verde ao desembolso dos 130 bilhões de euros para Grécia, uma verba pendente desde outubro de 2011. O grupo também promete aprovar o plano para reduzir a colossal dívida — de cerca de 350 bilhões de euros, ou 160% do Produto Interno Bruto (PIB) —, mediante o perdão de 100 bilhões de euros por parte dos credores privados. Caso haja algum entrave ao acordo ao longo do dia, Atenas deve declarar-se em moratória, uma vez que em 20 de março terá um vencimento de 14,5 bilhões de euros.
"Estamos cada vez mais perto de obter os elementos necessários para tomar uma decisão", disse o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, que nos últimos dias vinha sendo um dos mais relutantes em continuar a ajudar a Grécia. Tanto o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, quanto a chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, disseram-se confiantes de que um acordo poderá ser fechado hoje, conforme disseram após uma conversa telefônica com o premiê grego, Lucas Papademos.
Manifestação A tropa de choque cercou o Parlamento da Grécia, ontem, enquanto manifestantes se aglomeravam para protestar contra medidas de austeridade. Apenas algumas centenas de pessoas reuniram-se diante da sede do Legislativo, mas as autoridades continuam em guarda, uma vez que protestos no domingo passado acabaram em pilhagens e incêndios em prédios no centro de Atenas. "Talvez algumas pessoas estejam assustadas após os protestos da semana passada", disse Costas Xenakis, aposentado do setor público de eletricidade.
"As medidas de austeridade estão realmente prejudicando os aposentados. Nós não podemos simplesmente sentar e aceitá-las", disse Xenakis, de 70 anos, cuja pensão será atingida mais uma vez por novos cortes aprovados pelo gabinete do primeiro-ministro Lucas Papademos. Cartazes com inscrições como "Abaixo o memorando da fome" refletem a revolta de muitos gregos com a elite política, que permitiu que o país acumulasse ao longo dos anos uma dívida pública equivalente a 160% do PIB, enquanto os muito ricos tiravam vantagem da arrecadação negligente de impostos.
Espanhóis voltam às ruas
Milhares de espanhóis foram às ruas ontem em protesto contra a reforma trabalhista aprovada no último dia 10 pelo governo conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy. A proposta inclui demissões, reduções de salários e cortes de benefícios. A taxa de desemprego é recorde na Espanha, chegando 22,85% da população ativa. As mobilizações ocorreram em 57 cidades do país, segundo as centrais sindicais, que organizam uma greve geral para os próximos dias. Os organizadores dos protestos contabilizaram 500 mil manifestantes na capital, Madri, e mais 400 mil em Barcelona. Rajoy, do direitista Partido Popular (PP), foi empossado em dezembro de 2011 e começou o mandato de quatro anos com aumento de impostos e corte de 15 bilhões de euros. Mas precisa cortar mais 40 bilhões de euros para cumprir as metas de ajuste fiscal fixadas pela União Europeia.