O globo, n.30732 , 27/09/2017. RIO, p.12

Raquel Dodge diz que situação no estado é complexa e duradoura

JAILTON DE CARVALHO

27/09/2017

 

 

Procuradora-geral anuncia que Ministério Público Federal participará de esforço de combate à violência

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, anunciou ontem que o Ministério Público Federal vai participar do esforço de combate à violência e ao crime organizado no Rio. A procuradora-geral falou sobre o assunto depois de se reunir, no gabinete dela, com os ministros da Defesa, Raul Jungmann, do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, e da Justiça, Torquato Jardim. Uma das propostas de Jungmann é que a procuradora-geral crie uma forçatarefa, nos moldes do grupo de trabalho da Lava-Jato, para investigar o envolvimento de agentes do estado com o crime organizado no estado.

— Da nossa parte, acentuamos a importância de enfrentarmos o tipo de crime federal que tem acontecido ali na cidade do Rio de Janeiro, causando tremenda insegurança pública — afirmou Raquel Dodge.

A procuradora-geral não deixou claro se acolherá ou não a ideia de criação de força-tarefa. Antes de qualquer decisão, ela deve conversar com procuradores federais do Rio para definir que medidas poderiam ter maior eficácia. Segundo ela, o quadro de violência e criminalidade no Rio é complexo e exige cautela na atuação de cada uma das instituições interessadas na busca de uma saída para o problema. A procuradora-geral não deixou dúvidas, no entanto, que o Ministério Público Federal pode, sim, se alinhar aos esforços dos governos estadual e federal para conter o avanço da violência.

— Não está definindo ainda os moldes. Mas a reunião foi muito profícua no sentido de aproximar as instituições e alinhar as percepções que temos tido em relação ao que tem acontecido no Rio de Janeiro — explicou.

Raquel Dodge lembra que tráfico de drogas, contrabando de armas e outras práticas, como corrupção e lavagem de dinheiro oriundo desses desvios, são crimes federais. Ou seja, estão dentro da esfera de competência do Ministério Público Federal. Pelo acerto na reunião de ontem, a equipe da procuradora-geral fará um estudo sobre quais medidas poderiam ser implementadas. Num segundo momento, a procuradora voltará a se reunir com Jungmann, Etchegoyen e Jardim para, então, fechar questão.

— A situação é bastante complexa, de modo que existe uma cautela nossa no sentido de reconhecer o papel de cada um e como colaborar — ponderou.

A ideia de criação de uma força-tarefa do Ministério Público Federal, similar a da Lava-Jato em Curitiba, partiu do ministro da Defesa. Para Jungmann, procuradores poderiam formar um grupo especial para investigar o envolvimento de agentes públicos com o crime organizado. Isto porque, análises preliminares, apontam a participação de agentes do estado, inclusive de policiais, com o tráfico e contrabando de armas, entre outros crimes.

Na última sexta-feira, Jungmann já tinha se reunido com Raquel Dodge. No encontro, eles conversaram sobre a implantação de parlatórios dentro das penitenciárias federais para evitar o contato físico entre presos e pessoas que estejam fora do sistema. O ministro propôs que presos de alta periculosidade e advogados só conversem separados por vidros e por meio de telefones internos. Segundo ele, a prisão se transformou em “home office do crime organizado”. Jungmann quer ainda que essas conversas sejam gravadas. A proposta do ministro, no entanto, tem enfrentado muita resistência entre advogados.

Jungmann chegou a propor na semana passada que forças federais fizessem uma varredura nos presídios do estado, mas o governador Luiz Fernando Pezão disse que não seria necessário.