Postos abusam e gasolina sobe até R$ 1

Marlene Gomes e Simone Kafruni

22/07/2017

 

 

O preço da gasolina disparou da noite para o dia após o aumento de PIS-Cofins sobre combustíveis anunciado pelo governo na quinta-feira. Quem ainda comemorava as sucessivas quedas promovidas pela Petrobras nos últimos meses teve que administrar o susto ao ver o valor do litro saltar quase R$ 1 nos postos de abastecimento.

Por conta disso, os estabelecimentos do Distrito Federal amanheceram com um movimento acima do comum. A corrida dos motoristas era para abastecer ainda com preços sem o reajuste. Muitos postos repassaram para o consumidor o aumento mesmo antes da chegada de novo carregamento. A gasolina foi revendida, na capital federal, com acréscimo de até R$ 0,98, mais do que o dobro do total do repasse previsto na bomba, de R$ 0,41, anunciado pelo governo. Em alguns casos, o litro disparou para R$ 3,92.

As filas de veículos para abastecer chegaram a cerca de um quilômetro nos postos onde os preços da gasolina ainda estavam próximos dos R$ 3. Por volta do meio-dia, os carros ocupavam parte de uma pista do Eixo W, próxima à Quadra 110 Norte, onde fica o posto Ipiranga, atrapalhando o fluxo de trânsito. A gasolina estava sendo vendida a R$ 2,949, mesmo preço registrado no dia anterior. A preocupação do gerente Danilo Gabriel Silva era com a chegada de um novo carregamento, de 35 mil litros. Segundo ele, não havia previsão de reajuste, na bomba, do preço praticado pelo posto, que funciona durante 24 horas. “Ainda não recebi qualquer orientação para aumentar o preço”, enfatizou.

Moradora da Quadra 705 Norte, a administradora Tânia Rivera não teve dúvidas em correr para o posto de combustível, no fim do Eixinho Norte, assim que ouviu as primeiras notícias sobre um possível reajuste em todo o país. Acostumada a abastecer o carro a cada 15 dias, quebrou a rotina para aproveitar a gasolina a R$ 2,95. A espera para completar o tanque superou os 30 minutos, tempo que Tânia enfrentou com resignação porque poderia pagar a gasolina com cartão de crédito, facilidade que nem todos os postos oferecem, sobretudo, quando o preço do combustível está mais em conta. “Aqui dá para abastecer e parcelar o pagamento em até seis vezes, sem juros. É um diferencial que ajuda os consumidores”, explicou.

Cássia Ivone dos Santos ficou 40 minutos na fila para abastecer o veículo em um posto da Asa Norte. Moradora de Sobradinho, a jovem trabalha no Plano Piloto, mas nem sabe o quanto desembolsa mensalmente para abastecer o carro. Ela explicou que vai colocando gasolina aos poucos — “pingado” —, de acordo com os trocados. Ontem, Cássia saiu de casa cedo, com o propósito de completar o tanque, por causa das notícias sobre o aumento do preço dos combustíveis. “Nunca tenho dinheiro para encher o tanque porque a gasolina já é bem cara. Mas acho que vai ficar pior. Infelizmente, podemos esperar que o preço vai ficar bem alto”, disse.

Contrariando as evidências de que a conta dos combustíveis vai começar a pesar no bolso do brasiliense, o servidor público Cícero Rodrigues acredita que o aumento de impostos do governo pode acirrar ainda mais a disputa entre os estabelecimentos de combustíveis do DF, favorecendo, assim, o consumidor da capital. “Não acredito que o preço vai aumentar muito. Acho que vai haver mais concorrência entre os postos e os preços vão ficar nesse patamar mesmo”, disse.



Efeito

O efeito do PIS e da Cofins nos combustíveis foi um aumento de R$ 0,38 para R$ 0,79 por litro. Com mais R$ 0,10 por litro relativo à Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que incide sobre a gasolina, o reajuste, na bomba, chega a R$ 0,89 por litro. Ainda há comerciantes que aproveitam para lucrar mais. O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis/DF), no entanto, não se manifesta sobre reajuste no preço da gasolina ou sobre repasses para o consumidor de aumento de impostos relativos a combustíveis.

O impacto chegou às bombas de todo o país. Em São Paulo, o aumento médio no preço da gasolina ficou entre R$ 0,30 e R$ 0,40. Naquele estado, cercado por usinas de cana-de-açúcar, pode valer a pena trocar a gasolina pelo etanol. Mas o consumidor precisa ficar atento: como o carro consome cerca de 30% mais etanol do que gasolina, o valor do biocombustível tem que ser 70% do preço do combustível derivado de petróleo para compensar. No Distrito Federal, é difícil encontrar algum estabelecimento onde valha a pena abastecer com etanol.

Além do impacto no bolso dos motoristas, o reajuste dos combustíveis vai chegar a outros produtos por conta da elevação do custo do frete, já que o transporte de mercadorias é, predominantemente, rodoviário no país. O reflexo será o aumento da inflação.

 

 

 

Correio braziliense, n. 19779, 22/07/2017. Política, p. 6.