Título: Obama tenta conter Israel
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2012, Mundo, p. 12

Uma verdadeira ponte aérea se estabeleceu nas últimas semanas entre Washington e Jerusalém, com o alto escalão do governo norte-americano mobilizado para a missão de dissuadir o aliado de seus planos para bombardear o Irã. Nesta semana, segundo a imprensa israelense, será a vez do chefe dos serviços de inteligência, James Clapper. O governo de Barack Obama considera prematura uma campanha militar contra a República Islâmica, no momento, e se esforça para evitar uma escalada militar. Setores do governo israelense parecem determinados a agir, mesmo sem ajuda dos EUA, mas suas chances de sucesso numa ação solitária são reduzidas, segundo estrategista consultado pelo Correio, principalmente pela dificuldade em obter consentimento para cruzar o espaço aéreo de países da região (veja o mapa).

Clapper chegará a Israel após visita de Tom Donilon, conselheiro para Segurança Nacional da Casa Branca, que se reuniu ontem com o ministro da Defesa, Ehud Barak. No domingo, Donilon reuniu-se com o premiê Benjamin Netanyahu, que será recebido por Obama em 5 de março. A posição norte-americana ficou ainda mais evidente há dois dias, quando o chefe do Estado-Maior, general Martin Dempsey, afirmou à tevê CNN que seria "prematuro" lançar uma ação militar contra a nação persa.

Israel tem mantido há meses o suspense sobre a possibilidade de bombardear instalações nucleares iranianas. O iraniano Ahmad Ghoreishi, veterano analista da Escola Naval de Pós-Graduação da Califórnia (EUA), afirmou ao Correio que, sem apoio do Pentágono, uma ação militar israelense seria limitada ou extremamente difícil. Ele argumenta que Israel precisaria cruzar o espaço aéreo de países como Arábia Saudita, Jordânia ou Turquia, cuja permissão ele considera muito improvável. Ghoreishi destaca, em particular, a Arábia Saudita. A família real pode pagar um elevado preço político caso sirva a Israel como rota de ataque.

Além disso, o analista sustenta que há tempo para uma solução diplomática, uma vez que as sanções começam a ter fortes consequências. Na sua opinião, a economia iraniana nunca esteve tão debilitada. "O regime nem se importaria tanto se fosse atacado, pois, se isso ocorresse, a população se uniria para apoiá-lo."

Defesa antiaérea Em meio às expectativas, o Irã dá sinais de que se prepara para uma batalha. A agência oficial Irna, citando um comunicado militar, informou ontem que Teerã iniciou "grandes manobras para fortalecer a defesa antiaérea" de suas "instalações sensíveis, em particular as nucleares". O exerercício militar terá duração de quatro dias e será realizado na "metade sul do país", principalmente em torno do Golfo Pérsico, e envolverão "mísseis, sistemas de radar e aviação".