O Estado de São Paulo, n. 45227, 15/08/2017. Economia & Negócios, p. B1

 

 

 

 

Governo estuda elevar contribuição previdenciária de servidores públicos

Arrecadação. Alíquota descontada dos funcionários federais, que hoje é de 11%, passaria a ser escalonada de acordo com o salário, podendo chegar a 14%; com a medida, equipe econômica prevê uma arrecadação extra de R$ 1,9 bilhão por ano

Por: Idiana Tomazelli

 

Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

 

Na tentativa de reduzir gastos com o funcionalismo, a equipe econômica estuda aumentar a alíquota previdenciária de servidores federais para até 14%. A medida, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’, renderia R$ 1,9 bilhão a mais por ano aos cofres do governo.

A contribuição dos servidores ao regime próprio de Previdência (RPPS) hoje é de 11% sobre a remuneração. A ideia em estudo pelo governo é estabelecer diferentes faixas de contribuição, conforme o salário, com a alíquota máxima de 14%. Assim, quem ganha mais também pagaria um valor maior. Esse modelo já existe no INSS: os trabalhadores da iniciativa privada pagam entre 8% e 11% de seus salários ao mês.

A medida é bem vista por especialistas, que ressaltam o desequilíbrio nas contas não só do INSS, mas também na Previdência nos servidores. O rombo no RPPS chegou a R$ 82,5 bilhões em 12 meses até junho deste ano, e a previsão do governo é de que atinja R$ 85,2 bilhões até o fim de 2017. Mais da metade do resultado negativo vem dos benefícios pagos a servidores civis.

O déficit do INSS é maior e deve ficar em R$ 185,8 bilhões neste ano. Mas o número de segurados é muito maior, e o valor médio do benefício, menor.

A mudança também pode contribuir para as finanças estaduais, uma vez que a alíquota cobrada pela União de seus servidores é a referência mínima a ser adotada nos Estados. Alguns já elevaram as contribuições para o patamar de 14%, a exemplo do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, que vivem grave crise financeira. Mas a proposta da União obrigaria todos a irem na mesma direção, uma vez que as leis atuais vinculam as regras federais e estaduais.

 

Articulação. O aumento da alíquota previdenciária de servidores federais depende do aval do Congresso, mas a tarefa é considerada menos complicada porque a questão é regulada por lei ordinária. Isso significa que o governo pode enviar um projeto de lei ou uma medida provisória (MP), que tem vigência imediata, para alterar a regra e precisará contar com a maioria simples de votos, desde que metade dos deputados e senadores esteja presente nas votações.

Caso optasse por uma alíquota de 14% para todos os servidores, o governo poderia até arrecadar mais – cerca de R$ 3,4 bilhões ao ano, nos cálculos do consultor do Senado Pedro Nery. Mas o governo deve optar pela “escadinha” na contribuição para criar um modelo semelhante ao do INSS e ao do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), na esperança de reduzir as resistências.

Mesmo assim, categorias já se armam para barrar a proposta, em reação às articulações do governo por mais uma medida que mira os servidores. “É mais uma tentativa de jogar a responsabilidade pelo desequilíbrio econômico, e da Previdência, nas costas do servidor”, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), Claudio Damasceno. O Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) se reúne hoje para discutir “ações conjuntas” diante das investidas do governo contra os servidores.

 

 

 

Reajuste será adiado mas deve ser concedido em 2018

O governo prepara também o anúncio do adiamento de reajustes salariais de servidores que seriam concedidos em janeiro de 2018. A intenção da equipe econômica era jogar o reajuste para janeiro de 2019, mas, temendo ações na Justiça, o aumento deve ser adiado para algum outro mês do ano que vem. Outra medida em estudo é a limitação do salário de novos concursados a R$ 5 mil no início da carreira e de cortes no auxíliomoradia, benefício que muitas vezes proporciona remuneração total ao servidor acima do teto de R$ 33.763. O governo também quer retomar as discussões de propostas em tramitação no Congresso para regulamentar o teto e estabelecer que esses auxílios compõem, sim, a base para o cálculo do limite remuneratório./ LORENNA RODRIGUES

 

 

 

 

Área econômica conta com receita de R$ 25 bi para conter rombo

Anúncio da nova meta fiscal, previsto para ontem, foi adiado novamente e deve ser feito até o fim da semana

Por: Lorenna Rodrigues / Idiana Tomazelli /Eduardo Rodrigues / Carla Araújo

 

BRASÍLIA

 

A equipe econômica avalia incluir R$ 25 bilhões de expectativa de receitas com privatizações no Orçamento do ano que vem para evitar que o rombo seja superior aos R$ 159 bilhões registrados em 2016. No pacote de concessões, devem estar duas “joias da coroa”: os terminais de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).

O governo adiou mais uma vez o anúncio da proposta de aumento do teto para o rombo das contas públicas de 2017 e 2018. Previsto inicialmente para sexta-feira da semana passada, o anúncio não ocorreu ontem. Segundo fontes, deve ser feito nesta semana “quando os cálculos estiverem prontos”.

O governo deve propor ao Congresso aumento de R$ 20 bilhões para o limite do rombo neste ano e de R$ 30 bilhões para 2018. Se a proposta for aprovada pelos parlamentares, o governo ganhará autorização para que suas despesas superem as receitas em até R$ 159 bilhões, tanto em 2017 quanto em 2018. A meta atual é de que o rombo não supere R$ 139 bilhões este ano e R$ 129 bilhões em 2018.

Mesmo com a ampliação do rombo em R$ 30 bilhões, as contas de 2018 estão em situação mais complicada do que as deste ano. O governo ainda tentava ontem cobrir um buraco de R$ 20 bilhões para que não fosse preciso pedir uma meta superior a R$ 159 bilhões. A expectativa é conseguir parte dessa receita com o adiamento do reajuste de servidores públicos. Como isso terá de passar pelo Congresso, o governo tenta viabilizar receitas maiores de concessões.

Mesmo com a ampliação, no entanto, falta receita para alcançar o novo resultado, o que abriu margem para a pressão por metas maiores nos dois anos, em torno de R$ 170 bilhões. Nas reuniões que estão sendo feitas com parlamentares desde a semana passada, a equipe econômica vem sugerindo uma série de medidas para avaliar o que tem ou não chance de passar. Já se chegou à conclusão de que medidas de aumento de impostos serão evitadas.

Mesmo as receitas previstas para este ano, como a de usinas hidrelétricas devolvidas à União pela Cemig, correm o risco de não sair. O governo conta com R$ 11 bilhões desse leilão ainda em 2017 e tem mantido reuniões com procuradores e técnicos para garantir o certame.

Enquanto Michel Temer sofre pressão da ala política do governo e de parlamentares para que o rombo permitido seja ainda maior, a equipe econômica não quer entregar um resultado pior do que no ano passado e, com isso, ainda tentava ontem viabilizar receitas ainda incertas também para 2017, como de concessões e do novo Refis.

De acordo com fontes, a ideia é que a meta seja a mais próxima possível de se realizar, para evitar o desgaste de uma nova mudança mais para frente. O governo ainda tenta viabilizar um acordo em torno do novo Refis que garanta a arrecadação mais próxima de R$ 13 bilhões possível. No Congresso, parlamentares chegaram a ventilar que poderia haver uma ampliação do prazo de inscrição no programa, que termina dia 31, mas fontes da equipe econômica disseram ao Estadão/Broadcast que não trabalham com essa hipótese.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou o que chamou de “jeitinho” do governo federal para fechar as contas públicas. “Se cada vez damos jeitinho e aumentamos a meta mais do que precisa, você acaba gerando gastos desnecessários. Fica parecendo que as coisas caminham bem. A gente sabe que a coisa não caminha bem.” /LORENNA RODRIGUES, IDIANA TOMAZELLI, EDUARDO RODRIGUES E CARLA ARAÚJO