Selic recua a 9,25% e vai cair mais

Antonio Temóteo

27/07/2017

 

 

Mesmo com a crise política e as incertezas quanto ao cumprimento da meta fiscal de 2017, o mercado avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), manterá o ritmo de queda de juros em um ponto percentual no próximo encontro, marcado para 5 e 6 de setembro. Ontem, o colegiado reduziu a taxa de 10,25% para 9,25% ao ano, em decisão unânime. A taxa é a menor desde novembro de 2013, o que levou o presidente Michel Temer a usar o Twitter para comemorar a decisão. “Com trabalho, estamos colocando a economia nos trilhos”, disse.

A principal explicação dos analistas para prever que o BC manterá o ritmo de corte é o fato de as expectativas de inflação para 2018 estarem abaixo do centro da meta, de 4,5%. Em comunicado divulgado após a reunião, o Copom ressaltou que a projeção do custo de vida do próximo ano recuou para 4,3% e que a estimativa de mercado, apurada pelo boletim Focus, passou para 4,2%.

O comitê ainda ressaltou que o aumento de incerteza quanto à aprovação da reforma da Previdência e de ajustes na economia não se mostrou inflacionário. E comentou que a estabilidade das condições econômicas até o momento, a despeito da crise política, permitiu que fosse preservado o ritmo de flexibilização da taxa básica.

A manutenção do ritmo de corte dos juros básicos, destacou o BC, dependerá da permanência das condições macroeconômicas e de estimativas da extensão do ciclo de afrouxamento monetário. “O comportamento da inflação permanece favorável, com desinflação difundida, inclusive nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”, informou o comunicado.

 

Fatores positivos

Na avaliação do economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o BC sinalizou que deve repetir o tamanho do corte dos juros na próxima reunião. Segundo ele, a autoridade monetária deixou de falar em moderação do ritmo de queda da taxa e apresentou projeções para inflação de 2018 abaixo do centro da meta. “Isso propicia que os juros caiam abaixo dos 8% e abre a porta para manutenção da redução da Selic em um ponto percentual”, explicou.

Diante das sinalizações da equipe de Ilan Goldfajn, Kawall revisou a estimativa para a Selic no fim do ano de 7,5% para 7%. Ele passou a considerar um corte de um ponto percentual na reunião de setembro, seguido por uma queda de 0,75 ponto no encontro de outubro e de 0,5 ponto na última revisão, em dezembro.

O economista-chefe da A2A Asset, Eduardo Velho, também aposta em nova queda de um ponto na próxima reunião do Copom. Para ele, além de as estimativas de inflação estarem abaixo da meta, não existem pressões inflacionárias oriundas do exterior e a recuperação da economia brasileira está mais lenta do que o esperado. “Não temos pressões cambiais e a credibilidade da política monetária se baseia numa comunicação transparente. O ritmo de corte será mantido em setembro”, disse.

 

 

Correio braziliense, n. 19783, 26/07/2017. Economia, p. 7.