"Não é uma vitória pessoal"

Rodolfo Costa

03/08/2017

 

 

Após três semanas de muita articulação política e liberação de emendas parlamentares, o governo federal conseguiu barrar a denúncia instaurada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva. Agora, o peemedebista respira aliviado. O próprio presidente não escondeu a satisfação com o resultado. Em pronunciamento após a votação, saudou a Câmara dos Deputados pela decisão tomada e “todos os brasileiros e brasileiras de boa vontade que acreditam no nosso país”. “Vamos trabalhar juntos pelo país”, declarou, sem deixar de alfinetar os opositores. “Aqueles que tentam dividir os brasileiros erram.”

Para Temer, a vitória foi “incontestável”. “A decisão soberana do parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do Estado de direito, da força das instituições e da Constituição”, disse o presidente, enfatizando que a Câmara “representa o povo brasileiro”. “Diante dessa eloquente decisão, agora seguiremos em frente com as ações necessárias para concluir o trabalho que meu governo começou há pouco mais de um ano”, acrescentou.

A vitória é expressiva e também alivia as tensões em relação aos próximos movimentos da PGR. Interlocutores de Temer e integrantes do Judiciário com relações mais próximas com o Palácio do Planalto avaliam que as próximas duas denúncias que devem ser encaminhadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa não são efetivamente mais complicadas do que a votada ontem na Câmara.

O próprio contar dos dias para 17 de setembro, quando acaba o mandato de Janot, também é celebrado pelos auxiliares palacianos, que esperam que o governo conte com atuação mais discreta e equilibrada de Raquel Dodge, a sucessora.

A conquista no Congresso também foi celebrada por assessores e auxiliares. Os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha; da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco; da Fazenda, Henrique Meirelles; da Justiça, Torquato Jardim; da Defesa, Raul Jungmann; e do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, cumprimentaram Temer.

Na Câmara, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, também comemorou. Para ele, a rejeição da denúncia demonstra que o governo tem uma base sólida que “está habilitada a prosseguir com a pauta das reformas”. Embora não tenha alcançado o patamar de 280 votos favoráveis, os 263 votos são avaliados por auxiliares como um importante termômetro da força da base aliada.

 

Reformas

Ancorado no discurso padrão de que o governo está lutando para recolocar o país no rumo do crescimento econômico, Temer disse que não pretende descansar “até 31 de dezembro de 2018”. Um recado claro do otimismo em permanecer no cargo e tocar pautas econômicas e sociais. “Durante este breve período, espero terminar a maior transformação já feita no país em vários setores do Estado e da sociedade”, declarou.

Contrastes à parte, ao distribuir milhões em emendas parlamentares, Temer afirmou que o governo ainda fará muito ao colocar as contas públicas em ordem, “de forma definitiva e equilibrada”. O presidente, mais uma vez, destacou que os juros caem a cada mês e que o país tem conseguido resultados expressivos no mercado de trabalho, que devem, na avaliação dele, ser alavancados quando a reforma trabalhista entrar em vigor. “É uma revolução aguardada há mais de 30 anos para acontecer”, disse, reforçando que o governo tem o interesse em fazer “todas as demais reformas estruturantes.”

 

 

Correio braziliense, n. 19791, 03/08/2017. Política, p. 3.