Os 88 sinais de traição da base
Antonio Temóteo, Natália Lambert e Bernardo Bittar
03/08/2017
Os números da vitória do presidente Michel Temer no plenário da Câmara, na noite de ontem, são mais significativos do que o resultado em si. Enquanto os mais conservadores no Planalto esperavam pelo menos 280 votos favoráveis, os mais otimistas, como o deputado Beto Mansur (PRB-SP), estimavam mais de 300 sinalizações de apoio. O governo chegou a 263 votos e, agora, com o mapa dos votos na mão, poderá punir os traidores. Entre as legendas da base, 88 deputados votaram contra o presidente, desses, seis são do próprio PMDB, que ameaçou os parlamentares com perda de cargos, de espaços e até da expulsão do partido.
O racha no PSDB ficou explícito no placar. Dos 47 parlamentares, 22 votaram a favor do chefe do Executivo. O número corresponde a menos da metade dos deputados tucanos. Por outro lado, 21 votaram contra e outros quatro não participaram da sessão. Entre eles, a deputada Shéridan (RR) já declarava que não apoiaria Temer, e Eduardo Barbosa (MG) não compareceu à Câmara porque a mulher morreu.
O líder da bancada tucana, Ricardo Trípoli (PSDB-SP), que orientou os parlamentares a votarem pela admissibilidade da denúncia, afirmou não saber ainda como ficará a relação com Michel Temer. “A situação é individual para cada deputado. O partido tomou uma posição, mas nem todos a seguiram”, disse. Ainda segundo ele, nos ministérios, hoje ocupados por correligionários, também não há ingerência. “Não é assim que funciona. Quando se assume uma pasta, torna-se ministro. É com eles...”, concluiu.
Já o DEM, que nas últimas semanas sinalizava estar contra o governo, principalmente diante da possibilidade de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumir a Presidência da República, orientou ontem em plenário o voto a favor do chefe do Executivo. A mudança de postura garantiu 23 votos favoráveis ao governo, dos 30 parlamentares presentes. Somente cinco se posicionaram pelo andamento das investigações, um não compareceu ao plenário e Maia, por questões regimentais, não votou.
Alheio às polêmicas, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), comemorou o resultado. Conforme ele, superada a votação na Câmara, a agremiação continuará a trabalhar para que o governo de Michel Temer possa reconstruir o Brasil.” O PMDB parabeniza os deputados pela decisão madura, séria e comprometida com o Brasil. A partir de agora, avançaremos na transição com reformas estruturantes e ações para que o Brasil volte a ser um país onde as pessoas possam viver com esperança”, detalhou. Entretanto, ele não deixou claro que punições serão impostas aos parlamentares que votaram contra o chefe do Executivo.
Assim como no impeachment de Dilma Rousseff, a vitória de Temer acabou garantida com apoio de partidos do Centrão, sobretudo, do PP, do PR, do PTB e do PSD. Apesar das traições de 88 parlamentares da base, alguns deputados da oposição votaram a favor de Temer. Entre eles, um do PDT, um do PPS e um do PTdoB. Entre eles está o relator da reforma da Previdência, Arthur Maia (PPS-BA), que tem sido fiel ao Executivo e foi o único dos 10 integrantes da agremiação a apoiar o governo. Os outros nove se posicionaram a favor do avanço das investigações.
No caso do PP, dos 47 deputados, 37 votaram a favor de Temer, sete contra e três não estiveram no plenário ou se abstiveram. No PR, dos 40 parlamentares, 28 sinalizaram apoio ao chefe do Executivo, nove demonstraram apoio ao avanço das investigações e três se ausentaram da votação.
Os votos de cada um
Confira como cada partido se posicionou
na apreciação do processo contra Temer
Oposição
Partidos Bancada A favor de Temer Contra o governo Abstenção
PSol 6 — 6 —
PT 58 — 58 —
PTdoB 3 1 2 —
PCdoB 10 — 10 —
PDT 18 1 17 —
Rede 4 — 4 —
PSB 35 11 22 2
PMB 1 — 1 —
PPS 10 1 9 —
Base aliada
Partidos Bancada A favor Contra Abstenção
de Temer o governo Ausente
PSDB 47 22 21 4
DEM 30 23 5 2
PEN 4 3 1 —
PHS 7 1 6 —
PMDB 62 52 6 4
Podemos 14 9 5 —
PP 47 37 7 3
PR 40 28 9 3
PRB 23 15 7 1
Pros 5 3 2 —
PSC 9 5 3 1
PSD 38 22 14 2
PSL 3 3 — —
PTB 18 15 2 1
PV 7 3 4 —
SD 14 8 6 —
Correio braziliense, n. 19791, 03/08/2017. Política, p. 5.