Tática frustrada da oposição

Bernardo Bittar

03/08/2017

 

 

A oposição bateu o pé, mas não conseguiu impedir a vitória de Michel Temer na Câmara. Acreditando ter poder para evitar o resultado, parlamentares contrários ao governo decidiram atrapalhar a votação, numa tentativa de impedi-la. Conseguiram apenas atrasá-la. Como estratégia, criaram tumultos na sessão da manhã, com faixas e gritos; e à tarde, com empurra-empurra e arremesso de dólares estampados com o rosto do presidente.

Diversos partidos fizeram requerimentos para impedir a votação, mas apenas um chegou a ser lido pela Mesa Diretora, que negou. Ainda houve troca de votos e, em cima da hora, opositores decidiram apoiar o governo. Quem estava com medo de aparecer no plenário deu as caras depois que os aliados do presidente enterraram o processo contra ele. Não se desgastou nem desagradou ao partido.

A votação só terminou depois de duas sessões. Apesar de início marcado para as 9h, o processo de votação teve início às 18h22. Isso ocorreu, entre outras coisas, porque, após atingir o tempo limite de cinco horas previsto no regimento da Câmara, foi necessário encerrar a sessão e convocar uma nova. Havia cerca de 400 deputados no plenário quando isso ocorreu. O quórum mínimo necessário para o início da votação era de 342 parlamentares.

A possibilidade de esvaziar o plenário durante a nova sessão fez com que a oposição criasse diversos obstáculos, tentando atrasar ao máximo possível. Um dos artifícios usados foi o requerimento endereçado à ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento pedia que a votação fosse não pelo relatório, mas pela denúncia de corrupção que existe contra o presidente Michel Temer. A magistrada negou.

Parlamentares contrários à permanência do presidente da República tumultuaram a sessão ocupando os corredores em passeata com faixas e hinos contra o presidente. Alguns citaram as “Diretas Já”, enquanto outros usaram o clichê “Fora, Temer”. Integrantes da base aliada retrucaram: “Lula na cadeia”.

Segundo o líder do PT, Carlos Zarattini (PT-SP), a passeata foi um “grande movimento”. Ele acreditava na derrota do presidente. “Hoje (ontem), Michel Temer será derrotado e o povo brasileiro vai melhorar de vida”, declarou, pouco antes de entrar no plenário. Embora a sigla tenha se declarado contrária à permanência de Temer, nos bastidores, comentou-se sobre um possível racha no partido, cujos deputados não obedeceriam totalmente as instruções e, alguns votariam a favor do chefe do Executivo — o que acabou não ocorrendo.

Enquanto Zarattini discursava, no entanto, um documento feito por deputado petista passava de mão em mão, em busca de mudanças no posicionamento da sigla. Nesse momento, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apreciava um requerimento feito pelo PT para tirar a votação da pauta do dia. Questionado pela reportagem, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) negou que houvessem dissidentes.

Tiririca
Em ação inesperada, o deputado Tiririca (PR-SP), cuja sigla apoia o governo, votou pelo prosseguimento do processo contra Temer. Ao Correio ele afirmou que veio do povo, de baixo, e que, por isso, estará sempre com a sociedade. “Estou aqui para representar o brasileiro. A maioria queria a saída de Dilma, fui a favor. Querem que Temer saia, meu voto é com esse objetivo.” Ele não concorda, no entanto, com a série de acontecimentos em prol do atraso da votação. “Cada um sabe de si, mas acho complicado brincar com a política.”

Logo após o início do discurso do líder da minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), começou também uma nova confusão no plenário da Câmara. A oposição arremessou dólares estampados com o rosto de Michel Temer, levantou malas de dinheiro para alfinetar o presidente e governistas empunharam os bonecos apelidados de Pixuleco, famosos na época do impeachment de Dilma Rousseff, que imitam o ex-presidente Lula vestindo uniforme carcerário. Cogitou-se até suspender a sessão, o que não ocorreu.

 

Adesivo no paletó

Deputados da oposição circularam pelo plenário com um adesivo colado no paletó, na altura do ombro, com a inscrição “Fora, Temer” e uma bandeira do Brasil. O desenho é exatamente o mesmo da tatuagem exibida esta semana pelo deputado Wladimir Costa (SD-PA), mas sem o “Fora”. O deputado disse, na ocasião, ter decidido marcar “para sempre” o apoio ao presidente. Mas a tatuagem, garantem especialistas, é de henna. O adesivo foi distribuído no plenário por integrantes da oposição em meio a brincadeiras e selfies.

 

 

Correio braziliense, n. 19791, 03/08/2017. Política, p. 6.