O globo, n.30715 , 10/09/2017. PAÍS, p. 6

Temer se reúne com presidente da CPI da JBS no Jaburu

LETICIA FERNANDES

CRISTIANE JUNGBLUT

 

 

Estratégia do governo é usar comissão para desgastar Janot

Um dia depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir a prisão dos delatores Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, e do ex-procurador Marcello Miller, o presidente Michel Temer recebeu ontem, no Palácio do Jaburu, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que vai investigar as delações da JBS. O senador tucano ouviu de Temer que é muito importante que a investigação sobre a empresa prossiga.

A ordem do governo é turbinar as investigações envolvendo a delação da JBS e outras ações da procuradoria. No início da próxima semana, a primeira providência será transformar a CPI Mista da JBS na CPI Mista do Ministério Público. A ideia, segundo um dos aliados, é mirar no ex-procurador Marcello Miller, pedindo a quebra de sigilo de suas informações. Mais uma vez denunciado por Janot, o presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que a base quer investigar todas as delações, da JBS a Lúcio Funaro, doleiro do PMDB.

 

RELATOR DA TROPA DE CHOQUE

Está marcada para a próxima terça-feira uma reunião da CPMI, na qual será escolhido o relator, que deve ser o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos integrantes da tropa de choque de Temer. O ministro Antonio Imbassahy, que cuida da articulação política do governo, afirmou ao GLOBO que a escolha está “em boas mãos”:

— O senador Ataídes tem apoiado de forma muito firme e decidida as iniciativas do governo no Senado. A decisão sobre o relator é dele e está em boas mãos, nenhuma preocupação — disse o ministro.

O Palácio do Planalto manterá a estratégia de ataque ao trabalho do Ministério Público Federal (MPF) para tentar desqualificar uma segunda denúncia a ser apresentada pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer — mesmo depois da prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima e das revelações do delator Lúcio Funaro. Planalto e aliados tentarão adotar o discurso de “distanciamento” do caso Geddel, afirmando que ele deve enfrentar o problema sozinho.

Temer vai centrar fogo também na exaltação da melhoria da economia do país. Nos bastidores, integrantes da base dizem que Temer ainda se sustenta, mesmo com pessoas que fizeram parte do seu entorno sendo investigadas.

— Precisaria algo que impactasse diretamente a pessoa do presidente, não apenas o entorno — resumiu um parlamentar.

Já a oposição aposta que, com a proximidade das eleições, os deputados devem votar contra Temer. Para o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), Temer terá mais dificuldade para evitar a segunda denúncia:

— Ele está com a base fragmentada e a segunda denúncia vem com muita força, turbinada pelas novas delações.

(*Estagiária sob supervisão de Maria Lima).