O Estado de São Paulo, n. 45236, 24/08/2017. Economia, p. B4.

 

Petrobrás anuncia afastamento do diretor de governança

Fátima Laranjeira

24/08/2017

 

 

Comissão de Ética da Presidência da República advertiu executivo por conflito com empresa em que a filha trabalha

 

 

A Petrobrás anunciou ontem o afastamento temporário de seu diretor de Governança e Conformidade, João Elek. A determinação foi tomada após a decisão da Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República de aplicar advertência ao diretor esta semana. A diretoria de governança foi criada após os escândalos investigados pela Operação Lava Jato.

O afastamento vale até que o recurso que ele impetrará na CEP seja julgado. Segundo a Petrobrás, o conselho de administração da estatal tomou decisões com base em algumas considerações. A empresa lembra que questionamento recebido pelo Canal Denúncia, em setembro de 2016, apontava para um eventual conflito de interesses dado que a Diretoria de Governança e Conformidade (DGC) havia contratado a empresa onde a filha de Elek trabalhava.

A Comissão de Ética da Petrobrás encaminhou o assunto para a CEP, obedecendo à legislação vigente.

Segundo a Petrobrás, a filha de Elek foi contratada por uma empresa de auditoria, para uma posição iniciante, por meio de processo seletivo que durou de setembro de 2015 a março de 2016. Conforme a estatal, em nenhum momento suas funções envolveram assuntos ligados à companhia.

 

Auditoria. No mesmo mês de março, o diretor comunicou à comissão de ética da Petrobrás que sua filha havia sido contratada. O contrato da petroleira com a empresa de auditoria foi assinado em 18 de dezembro de 2015.

“Por outro lado, a DGC decidiu fazer a contratação de empresa especializada de auditoria, na modalidade de dispensa de licitação, para prestar serviços de investigação das denúncias recebidas pelo nosso Canal Denúncia”, afirma a companhia em nota. “A dispensa da licitação foi justificada tendo em vista os riscos que poderiam ser gerados para a companhia, como atrasos e/ou a interrupção desses trabalhos, incluindo o enfraquecimento da governança da Petrobrás”, diz o texto.

A nota da empresa acrescenta ainda que “esta forma de contratação recebeu pareceres favoráveis da auditoria interna e do departamento jurídico e ocorreu em data posterior ao início do processo seletivo do qual participou a filha do diretor João Elek”.

Uma comissão criada pelo Conselho de Administração da Petrobrás concluiu que o processo de contratação foi justificado e regular, tendo ficado demonstrada a urgência e tendo sido cumpridos todos os demais requisitos da governança.

A CEP, porém, teve entendimento diferente. “Esta situação, na visão da comissão, configura o conflito de interesse”.