Título: Inspeção liberada
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2012, Mundo, p. 17

Análise do programa nuclear pode durar o tempo que for necessário, diz governo iraniano

Em meio à crescente tensão entre o país e as potências ocidentais, o governo do Irã aceitou ontem uma extensão por período indeterminado da missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que inicialmente duraria três dias. Os inspetores chegaram ontem a Teerã para vistoriar o programa nuclear do país, sob constante suspeita, por parte de nações europeias e dos Estados Unidos, de ser destinado à produção de armas atômicas.

O embaixador do Irã na agência, Ali Asqar Soltaniyeh, afirmou que o principal objetivo é provar que o programa nuclear do país é transparente. "Estamos ansiosos para o início de um diálogo", garantiu. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, se mostrou otimista com a missão e declarou que a expectativa é de que os líderes da Europa sejam "sábios" e busquem uma melhor relação com o país.

Diante dos temores que envolvem o programa nuclear iraniano, autoridades internacionais, lideradas pelos norte-americanos, defendem o aumento de sanções contra o país. A União Europeia (UE) já deu o primeiro passo para intensificar as penalidades. Além de suspender gradativamente a importação de petróleo, o grupo decidiu congelar os ativos do Banco Central persa no bloco. O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, assegurou no domingo que a missão poderá dar espaço para que a Organização das Nações Unidas (ONU) "corrija sua atitude", considerada "preconceituosa".

Surpresa A boa vontade iraniana em receber a agência surpreendeu as autoridades internacionais, que esperavam resistência por parte do país. Depois que a UE anunciou as sanções, em 24 de janeiro, o ex-ministro da Inteligência iraniana Ali Fallahian chegou a propor que o Irã suspendesse a venda de petróleo aos países do bloco europeu de imediato. Para ele, como o grupo levaria seis meses para encontrar uma alternativa para repor o combustível, a suspensão seria altamente prejudicial aos europeus. "Com a falta do produto, o preço subirá no mercado internacional", previu.

Fallahian observou que a Rússia é a única que pode oferecer aos europeus um petróleo similar ao iraniano. O Parlamento do país deveria discutir esta semana uma nova lei para cortar imediatamente o envio de petróleo à Europa. Ali Adiani, membro do Comitê de Energia do Parlamento iraniano, disse à agência local de notícias Isna, entretanto, que a reunião foi adiada. Adiani alegou que o assunto deve ser analisado antes de ser debatido pelo grupo. A decisão foi considerada mais um gesto de boa vontade dos líderes iranianos, justamente para não agravar as tensões durante a visita dos inspetores da AIEA.

Armas a laser Já virou padrão: justamente quando o conflito diplomático se intensifica, o governo iraniano divulga avanços militares. Ontem, foi a vez de o ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, anunciar a fabricação de armas com munições guiadas por laser. O arsenal é capaz de detectar e atingir alvos em movimento com alto grau de precisão, segundo o governo iraniano. Para o ministro, a nova munição faz parte de um "novo capítulo" na evolução militar do país. "Apenas os Estados Unidos e a Rússia têm tecnologia similar", destacou.