Título: Delegado diz que denúncia é retaliação
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2012, Cidades, p. 22

Diretor da Polícia Civil nega ter oferecido propina e desafia Edson Sombra e Durval Barbosa a mostrarem suposto vídeo

O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Onofre de Moraes, acredita que a acusação de que teria oferecido propina ao jornalista Edson Sombra é retaliação a investigações conduzidas pela corporação. Nas últimas semanas, a Delegacia de Crimes contra a Ordem Tributária (DOT) encontrou indícios de irregularidades contra a empresa da mulher do jornalista, Wânia Luzia de Souza. O delator da Caixa de Pandora, o delegado aposentado Durval Barbosa, afirmou em depoimento, no último dia 24, à Polícia Federal, que o diretor teria oferecido R$ 150 mil a Edson Sombra como forma de silenciar o blogueiro, que diz ter gravado a suposta oferta. Onofre nega a acusação.

A denúncia foi relatada pelo delator à revista Veja, mas Onofre de Moraes desafia os autores a mostrarem o suposto vídeo. "Se tiverem alguma coisa contra mim, que mostrem. Eu não me importo. Enquanto eu for diretor da Polícia, não vou me curvar nem para Edson Sombra, nem para Durval Barbosa", disse o policial ao Correio (leia entrevista ao lado).

No fim do ano passado, a DOT iniciou a Operação Voucher, com o objetivo de apurar desvios fiscais de empresas de viagens e de publicidade do Distrito Federal. Entre as suspeitas, os investigadores identificaram a Babytour Agência de Viagens, Turismo e Representação Ltda., de Wânia e Antônio Ricardo de Pádua Aguiar. Apesar de estar com a inscrição cancelada desde 2007, o escritório mantinha em funcionamento a página na internet com ofertas de pacotes turísticos, além de ter movimentações financeiras.

Segundo o chefe da DOT, o delegado André Varella, Aguiar seria o jardineiro do jornalista. Para atestar o suposto funcionamento da agência, dois agentes foram no início deste mês ao endereço constante no registro da empresa, na 716 Norte, onde Sombra reside com a família. Câmeras do circuito de segurança flagraram a presença dos policiais. Intrigado, o jornalista publicou em seu blog imagens dos dois fotografando o terreno. "Chegamos ao nome de Edmilson Edson dos Santos, mas não sabíamos que era o Sombra, até vermos a notícia na internet. Ele fez chacota dos policiais e os colocou sob risco", diz Varella.

Segundo Moraes, Sombra o procurou no dia 19, na Diretoria-Geral da PCDF, afirmou estar sendo perseguido e pediu o fim das investigações. No entanto, o jornalista teve de voltar, no dia 23, para prestar depoimento na DOT. O delegado André Varella afirma ter identificado o envolvimento do blogueiro com empresas suspeitas, inclusive, de lavagem de dinheiro. Um dos indícios é a compra de um automóvel blindado, em nome da agência de Wânia, da empresa Máxima Assessoria, dos sócios Cristiano Silva de Souza e Hermógenes Alves dos Reis. O primeiro foi acusado de atentado violento ao pudor enquanto o outro cumpre regime semiaberto por roubo. "Tudo indica que essa era uma empresa laranja", afirma Varella.

Além disso, os policiais encontraram mais de 70 ações fiscais, no Tribunal de Justiça de Pernambuco, contra empresas ligadas a Sombra. Além de ter contrariado o amigo jornalista, Onofre de Moraes acredita ter irritado Durval Barbosa, ao nomear para a chefia da Academia de Polícia a chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Sandra Gomes Melo, responsável pela investigação da acusação de pedofilia imputada ao delator.