Começa a paquera para 2018

Rodolfo Costa

06/08/2017

 

 

 

Superada a rejeição da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da República, Michel Temer, por suspeita de corrupção passiva, o tema das eleições ganha força. Por mais que o Palácio do Planalto e os mais fiéis ao governo assegurem que as atenções estão voltadas para as reformas, a ideia de uma chapa entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), toma corpo. A dupla ainda é especulação na montagem do tabuleiro político para 2018, mas a ideia agrada parlamentares da base aliada. Diante do cenário traçado pelas pesquisas eleitorais — com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) polarizando a disputa — os nomes de Meirelles e Maia seriam uma boa representação de centro.

A possibilidade de uma união entre os dois é respaldada pelo vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Beto Mansur (PRB-SP) tendo em vista que o PMDB não tem candidato e que parte do PSDB está contra os peemedebistas. “Existe a possibilidade de ter uma composição entre Meirelles e Maia. É uma análise minha. Está começando a abrir uma janela de oportunidades para quem pode ser candidato”, justifica, sem cravar qual dos dois seria o cabeça na composição.

Oficialmente, no entanto, não há confirmações. Assessores de Meirelles negam que exista alguma possibilidade de o ministro, que é filiado ao PSD, ser candidato a presidente. Por parte do Democratas, também não há nada concreto, afirma o líder da legenda na Câmara, Efraim Filho (DEM-PB). “Não há nenhuma estratégia conjunta nesse sentido. Está muito cedo para tratar de 2018, e, muito menos, de composição com Meirelles”, afirma. O momento, pondera o parlamentar, é de “travessia”. “Estamos em um ano repleto de desafios, especialmente na economia. Maia, lógico, tem se destacado pela serenidade e tomada de decisões, além da capacidade de diálogo”, destaca.

Embora garanta que o DEM não tenha estabelecido uma prioridade para 2018 em âmbito federal, Efraim afirma que a possibilidade de uma união entre Maia e o ministro não pode ser descartada. A depender da reação da economia, não seria uma ideia impossível. “Está vinculada ao desempenho econômico. Se a economia decolar, vamos ganhar protagonismo”, sustenta.

O deputado explica que a estratégia do DEM para 2018 está concentrada no âmbito estadual e que o partido projeta pelo menos sete candidaturas competitivas: para Goiás, com o senador Ronaldo Caiado; para a Bahia, com o prefeito de Salvador, ACM Neto; para o Rio de Janeiro, com ex-prefeito carioca César Maia, pai do presidente da Câmara; para o Rio Grande do Sul, com o deputado Onyx Lorenzoni; para Pernambuco, com o ministro da Educação, Mendonça Filho; para o Amapá, com o senador Davi Alcolumbre; e para São Paulo, com o deputado federal Rodrigo Garcia, atual secretário de habitação do estado. A própria listagem do parlamentar indica a vontade de voos mais altos para Rodrigo Maia, que antes do protagonismo alcançado com a denúncia de Temer, estava de olho do Palácio das Laranjeiras, no Rio.

 

Prioridade

Outra qualidade que fortalece a ideia da dupla é a possibilidade de obter o apoio do PMDB. Ter o respaldo da sigla seria fundamental, avalia o cientista político David Fleischer. “Ter o apoio de Temer faz parte dessa equação, que envolveria um pré-acordo em torno de um indulto ao atual presidente, para que não seja processado em primeira instância”, analisa. Mesmo a possibilidade de colocar Meirelles no centro das atenções, ainda com a reforma da Previdência a ser aprovada, não seria um absurdo, pondera Fleischer. “Quem assumiu a conversa sobre revisão da meta fiscal foi o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Vejo isso como um movimento que já tira o Meirelles dos holofotes.”

 

 

Correio braziliense, n. 19794, 06/08/2017. Política, p. 3.