Correio braziliense, n. 19804, 12/08/2017. Política, p. 5.

 

 

Esperança na confiança dos investidores

12/08/2017

 

 

Enquanto o governo estuda revisar a meta fiscal e cortar mais gastos, o presidente Michel Temer afirmou que o Brasil “logo, logo” vai recuperar o grau de investimento. Em um afago ao agronegócio, ele participou da colheita de algodão e inaugurou a primeira usina de etanol que utiliza milho em 100% de sua produção em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Foi a primeira visita ao estado desde que o peemedebista assumiu a presidência. “Eu vou fazer um pouco de propaganda do governo, aqui pode, não é? Mas vocês sabem que eu vejo que o risco Brasil que estava em mais de 470 pontos negativos, quando assumi o governo, hoje está em 195 pontos. Portanto, caiu sensivelmente. Logo, logo nós vamos reassumir o grau de investimento que nós perdemos no passado”, disse o presidente, diante de uma plateia formada por empresários do agronegócio e lideranças políticas de Mato GrossoEm fevereiro de 2016, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota do Brasil em dois graus — Fitch e Standard & Poor’s já haviam reduzido a nota brasileira em 2015. Dados da consultoria Markit mostram que o Risco Brasil medido pelo indicador CDS está em torno de 205 pontos-base. O CDS é um contrato financeiro que funciona como um seguro contra calote, já que permite ao investidor receber o dinheiro mesmo em caso de inadimplência do emissor do papel.Temer enalteceu o recuo da inflação e a queda dos juros básicos. Ao falar das reformas que o seu governo tem implantado “para recolocar o país nos trilhos”, disse que está sendo mais que corajoso. “Eu estou sendo ousado porque são matérias que ficaram durante anos paralisadas e nós fomos dando solução. Eu, naturalmente, falo da modernização da legislação trabalhista, que é algo que garante o direito dos empregados e o combate ao desemprego.”ProtestoAntes da chegada de Temer a Lucas do Rio Verde, caminhoneiros protestaram na BR-163 contra o aumento da alíquota de PIS/Cofins sobre combustíveis e os escândalos de corrupção que atingem o Planalto. O congestionamento chegou a 4km pouco antes do início do evento, de acordo com a concessionária Rota do Oeste. A manifestação, no entanto, não atingiu diretamente o presidente, que se deslocou de helicóptero na região.

Análise
Antecipação ao Banco Central

 

» Vicente Nunes

O presidente Michel Temer se antecipou ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e já indicou para onde vai a taxa básica de juros (Selic). Em discurso a ruralistas na cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, indicou que a Selic cairá, até o fim deste ano, dos atuais 9,25% ao ano para algo entre 7% e 7,5%. Não é comum um presidente da República fixar um nível determinado para a taxa básica definida a cada 45 dias, em média, pelo BC. Ao falar em números, Temer dá a entender que já acertou tudo com o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, e os demais diretores da instituição. Não custa lembrar que, no fatídico encontro entre Temer e o empresário Joesley Bastista, no Palácio do Jaburu, em 7 de março, o presidente afirmou que o BC cortaria os juros na próxima reunião do Copom em um ponto percentual, o que acabou se confirmando. E mais: foi a forte intervenção de Dilma Rousseff, quando presidente da República, no Banco Central, que resultou em uma grande onda de desconfiança e no aumento da inflação. Dilma obrigou o BC, então comandando por Alexandre Tombini, a reduzir os juros para o nível mais baixo da história, 7,25%. A façanha, porém, durou apenas seis meses, pois o custo de vida disparou. O Banco Central sempre faz questão de ressaltar sua independência para conduzir os rumos dos juros. É isso que dá base à credibilidade da instituição, que ficou muito arranhada durante o governo Dilma. Portanto, soa, no mínimo, estranho, que Temer já saiba para que nível a Selic vai cair. Ao longo do governo Temer, a taxa básica já baixou cinco pontos percentuais, de 14,25%, em outubro do ano passado, para 9,25%, atualmente. No mercado financeiro, a perspectiva é de que os juros cedam um patamar entre 7% e 8%, devido ao forte recuo da inflação, que, nos 12 meses terminados em julho, ficou em 2,71%, o nível mais baixo desde 1999.