Correio braziliense, n. 19807, 15/08/2017. Política, p. 3.

 

 

Cobiça por cargos na base

Paulo de Tarso Lyra e Rodolfo Costa

15/08/2017

 

 

A diretoria de Tecnologia da Informação do Banco do Nordeste (BNB) tornou-se alvo de disputa dos ministros palacianos com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). O atual diretor, Nicola Miccione, pode deixar o cargo e ser substituído por Delano Macedo Vasconcelos, indicado pelo deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), que se ausentou na votação da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva.

Os maiores entusiastas para a exoneração de Nicola são os ministros da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. A Imbassahy interessa premiar um tucano cearense para se contrapor ao presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissatti (CE), defensor da saída de Temer e do desembarque do PSDB do governo.

No caso de Moreira, há uma disputa que acaba também envolvendo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No auge da crise, Eunício e Maia agiram muito afinados e o Planalto chegou a desconfiar de uma conspiração para a derrubada do presidente. Além disso, Eunício adiantou a data de votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), empurrando para o início de agosto a análise do processo contra o presidente Temer, desagradando ao círculo mais próximo do presidente.

O pedido de exoneração de Nicola já foi encaminhado ao Ministério da Fazenda. Pessoas próximas a Eunício, contudo, lembram que é arriscado para o governo comprar briga com o presidente do Congresso em um momento em que várias matérias importantes precisam tramitar no Parlamento, como a mudança de meta fiscal e as reformas da Previdência e trabalhista.

Para minimizar o impacto, a justificativa é de que Nicola não foi indicado por Eunício, mas pelo deputado Vitor Valim (PMDB-CE). Vitor votou contra Temer no processo de admissibilidade e foi um dos cinco deputados suspensos por um período de 60 dias pela direção nacional do PMDB. “E alguém acha que o Valim teria alguma força para indicar alguém no Banco do Nordeste sem o apoio do Eunício?”, provocou um aliado do presidente do Senado.

 

Outra mudança

O governo também comprou outra briga com parlamentares do Nordeste ao trocar o comando da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Ao nomear ontem um indicado da bancada de dissidentes do PSB, apadrinhado pelo deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), para a presidência da estatal, Temer desagradou a parte dos governistas nordestinos que desejam ocupar a vaga dos socialistas. O presidente exonerou Kênia Marcelino e colocou, em seu lugar, Antonio Avelino Rocha.

Kênia era afilhada do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que integra a ala dos socialistas que apoiam o desembarque do governo. O filho do senador, deputado Valadares Filho (SE), votou a favor da admissibilidade da denúncia por corrupção passiva encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A queixa dos aliados é que o PSB mostra ser uma legenda rachada e que os socialistas aliados ao Planalto somam entre 12 e 13 votos. “Várias bancadas, com força no Nordeste e com um potencial muito maior de votos favoráveis ao Planalto, ficaram ressentidas com essa escolha”, alertou um líder parlamentar. Uma dessas legendas é o PP, que já comanda as pastas da Saúde, da Agricultura e a Caixa Econômica.

Na semana passada, o pleito foi levado ao Planalto pelo próprio presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira (PI). Além da questão regional, ainda existe uma disputa local: no Piauí, Heráclito e Ciro são adversários. Em tese, existe uma grande chance de o PSB também ficar sem o cargo, uma vez que Heráclito é um dos parlamentares que flertam com o DEM para a criação de uma legenda, a Mude (Mudança Democrática).