Título: Incremento no comércio e no trânsito
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2012, Política, p. 2/3

A volta dos trabalhos no Congresso significa um incremento considerável na economia e no trânsito em Brasília. Se até a semana do carnaval o índice de ocupação de hotéis na capital fica em torno de 10%, quando os parlamentares retomam suas atividades esse percentual sobe para 50%.

Isso porque, além dos 513 deputados e 81 senadores, que trazem consigo uma legião de funcionários nos gabinetes, o movimento de outros profissionais, principalmente de lobistas de grupos interessados em fazer valer seus interesses, é exponencialmente multiplicado.

Cerca de 20 mil pessoas circulam diariamente pela Câmara, segundo estimativas da Polícia Legislativa. São lobistas, representantes de sindicatos de trabalhadores, de entidades patronais, enfim, grupos que pressionam para que determinados projetos sejam votados ou engavetados.

A Casa conta ainda com mais de 4 mil funcionários, entre efetivos e cargos de natureza especial. Além desses servidores fixos, outros 10,2 mil secretários parlamentares enchem os corredores do Congresso. Mas, esse é um dos números que mais se altera durante o ano, já que os secretários parlamentares costumam acompanhar os deputados nas viagens aos estados. Ou seja, o expediente na Câmara só vai de terça a quinta, quando há sessão.

No Senado, a situação é semelhante. O número de pessoas que circula nos dias úteis é, em média, de 10 mil. Desse total, mais de 7 mil são servidores e trabalhadores terceirizados. Os outros três mil são "outros profissionais", servidores da Câmara e de órgãos públicos. Isso, de terça a quinta-feira, porque nos outros dias da semana o público é bem diferente.

De sexta a segunda-feira e nos feriados, é mais fácil encontrar turistas em busca de painéis de Athos Bulcão e esculturas de Alfredo Ceschiatti do que parlamentares ou servidores. Somente nesses quatro dias de carnaval, foram contabilizados 4,3 mil visitantes. Em sábados de maior movimento, o número de turistas alcança quase 2 mil pessoas.

Táxis O esvaziamento de Brasília, que incluiu julho e vai de meados de dezembro até depois do carnaval, é sentido pelos setores mais diretamente ligados a esse movimento. A presidente do Sindicato dos Taxistas (Sinpetaxi), Maria do Bonfim, é categórica: "Brasília não funciona sem o Congresso. Quando volta, é a época que a gente consegue ganhar um dinheirinho a mais", aponta. Ela relata que somente a partir de março a volta é realmente sentida, com um aumento de cerca de 50% da demanda pelo serviço.

Mas Maria do Bonfim lamenta o curto espaço de tempo da categoria para aproveitar o lucro extra. "É só de terça a quinta. Segunda-feira o povo ainda está voltando de viagem e na sexta já vai todo mundo embora, e aí morreu de novo. Dá vontade de trocar de profissão", ironiza.

Os donos de restaurantes frequentados por políticos são os que mais comemoram a volta dos trabalhos no Congresso. Cássio Alexandre da Silva, gerente de uma grande churrascaria, calcula o crescimento do lucro. "Deve haver um aumento de pelo menos 50%", calcula ele, ressaltando que o volume de pessoas pode ser maior, chegando a 70%, se houver grandes eventos na cidade.

Para outros funcionários, a volta das atividades legislativas significa o fim do sossego. É o caso da copeira Zenaide Marisa Nunes, que conta o fim dos dias de tranquilidade na Câmara. Durante o recesso, Zenaide trabalha somente para servir água e café aos visitantes do Salão Negro da Câmara.

No local, apelidado pelos garçons de rodoviária, pela intensidade do fluxo de pessoas que passam por lá, Zenaide tem servido cerca de 600 pessoas durante o recesso. Quando as sessões são retomadas na Casa, o número de cafezinhos dispara. "Às terças e quartas-feiras, servimos uns 100 cafés por minuto", calcula Zenaide.

Gabinete Os deputados têm uma verba de até R$ 60 mil por mês para contratar secretários parlamentares. O número desses servidores pode variar de cinco a 25, por gabinete. A média, no entanto, é de 20 por deputado. O controle da frequência desses secretários à Casa é diferenciado daquele dos outros servidores. É o próprio gabinete que comunica o ponto e a Câmara não tem controle direto. A justificativa para o tratamento diferencial é que os secretários costumam acompanhar os deputados em viagens aos seus estados para prestar assessoria.

Roteiro De acordo com a assessoria do Senado, cerca de 1,5 mil pessoas visitam o Congresso por dia. O passeio deve ser agendado e ocorre diariamente, inclusive aos fins de semana e feriados, das 9h30 às 17h, com duração de uma hora aproximadamente. Os grupos são conduzidos por uma equipe de monitores das duas Casas. Eles percorrem um roteiro que mostra os pontos principais do Congresso. São abordados temas como a arquitetura, a história, o papel, a estrutura e o funcionamento do Legislativo no Brasil.

Próximas polêmicas Após a ressaca do carnaval, o governo irá forçar a aprovação do Fundo de Pensão dos Servidores Públicos Federais (Funpresp) na Câmara, da qual dependem novas contratações de aprovados em concursos. O projeto esteve na pauta de votação, mas foi retirado pelo presidente Marco Maia (PT-RS), contrariado com indicações do Planalto ao Banco do Brasil. Outro tema que deverá ser apreciado em breve é a Lei Geral da Copa. A Fifa vem cobrando a votação do texto, que ainda deve ser aprovada na comissão especial, para depois passar pelos plenários da Câmara e do Senado. Nos próximos dias serão definidos também os presidentes das comissões na Câmara. Com a recusa dos partidos em ceder a vez para que o PSD escolhesse as comissões de sua preferência, e com a negativa do partido de Kassab em aceitar duas comissões que seriam criadas para abrigá-lo, o assunto tende a causar polêmica antes de ser finalmente resolvido.