Correio braziliense, n. 19808, 16/08/2017. Brasil, p. 5.

 

 

As fronteiras do crime

Renato Souza e Hamilton Ferrari

16/08/2017

 

 

Em seminário sobre contrabando, realizado no Correio, especialistas em segurança pública e em concorrência de mercado discutiram medidas para reduzir o comércio ilegal, a fim de diminuir o crime organizado e melhorar as práticas das empresas. No evento O Brasil que nós queremos: unidos pelo fim do contrabando e da criminalidade, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, destacou que o maior problema a ser enfrentado é a extensão territorial de 17 mil quilômetros que o Brasil tem com outras nações da América do Sul.

Torquato Jardim deu um panorama da situação do narcotráfico nas fronteiras brasileiras. A “economia subterrânea”, do mercado ilegal, representa 16% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o ministro, o governo vem mapeando a forma de atuação do crime organizado e repensando a segurança nas fronteiras. De acordo com ele, as organizações criminosas têm ganhado espaço no comércio ilegal internacional.

“Essa globalização do comércio ilícito não é menor que a globalização do setor formal. A arma que chega ao Rio de Janeiro pode ter sido roubada em outro país. Hoje, nos Estados Unidos, tem aumentado o número de assaltos violentos em lojas de armas. É a modalidade de roubo que mais apresenta elevação por lá. E essas armas podem vir parar aqui no Brasil”, exemplificou. “A mesma coisa é a droga, que pode ter sido produzida na Colômbia, no Peru e vir parar nas cidades brasileiras.”

O governo vê a interação das forças de segurança como fator fundamental para o combate ao contrabando. De acordo com Torquato, essa parceria entre polícias, forças armadas e diferentes governos deve ocorrer em escala internacional. “Há uma série de atividades da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Força Nacional, das Forças Armadas, em colaboração com as forças de segurança do Paraguai e da Bolívia”, disse. “É uma grande operação internacional para acompanhar esse fluxo e inibi-lo no consumo final. É uma atividade contínua, não existe dia para terminar. O Brasil não pode combater esse problema sozinho.”

 

Entraves

Apesar disso, a crise econômica e o contingenciamento das contas públicas são um entrave para o avanço nos planos de combate ao contrabando e às organizações criminosas. Um corte de R$ 200 milhões no orçamento da PRF, anunciado em agosto, aumentou o estado de alerta nos investimentos relacionados à fiscalização de vias e das fronteiras e no combate à entrada de armas e de drogas ilegais.

“O contingenciamento afeta as áreas de segurança pública. E temos uma vasta parcela da população acostumada a viver com benefícios sociais de toda natureza, contínuos e intermitentes. Cortar essa dependência para apoiar atividades que não vão mostrar resultados num curto período é uma opção política difícil”, afirmou Torquato. O ministro defendeu a criação de um fundo político de segurança pública, que, na visão dele, tem um retorno maior do que o investimento adotado no Brasil.

Ele também defendeu o maior uso da tecnologia na fiscalização. “Temos uma fronteira tão grande que não podemos pensar em pessoas nela. É preciso ter drones, satélites e diversas ferramentas de monitoramento”, afirmou.