​O Estado de São Paulo, n. 45222, 10/08/2017. Política, p. A7.

 

Polícia Federal não vê crime de Aécio em Furnas

Fausto Macedo / Luiz Vassallo / Julia Affonso

10/08/2017

 

 

Em relatório ao Supremo, delegado afirma que não é ‘possível’ constatar suspeita de propinas em estatal de energia; defesa espera arquivamento

 

 

A Polícia Federal afirmou “não ser possível” constatar que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) praticou condutas criminosas que lhe são imputadas no inquérito que apura suspeita de recebimento de propina em contratos da estatal Furnas na gestão de seu aliado Dimas Toledo. A conclusão consta de documento da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal.

“A partir do conteúdo das oitivas realizadas e nas demais provas carreadas para os autos, cumpre dizer que não é possível atestar que Aécio Neves da Cunha realizou as condutas criminosas que lhe são imputadas”, diz o documento assinado pelo delegado Alex Levi Resende.

No inquérito que tem o ministro do STF Gilmar Mendes como relator, Aécio é investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além desse, o senador tucano é alvo de outros sete inquéritos no Supremo, além de uma denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O inquérito referente a Furnas toma como base informações fornecidas por três delatores: o doleiro Alberto Youssef, o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) e o lobista Fernando Moura. Segundo o delegado, Youssef e Delcídio relataram em suas delações episódios “por ouvir dizer” e não apresentaram qualquer outro elemento para corroborar o que afirmaram.

 

‘Cautela’. Ainda de acordo com o delegado, o depoimento de Moura, autor do único testemunho que corrobora as colaborações, “precisa ser avaliado com cautela, por se tratar de pessoa que já foi desacreditada pela Justiça e teve seu acordo de colaboração premiada revogado por ter mentido em juízo”.

“Nenhum dado colaborativo adicional foi apresentado pelos delatores, e as informações que apresentaram, notadamente por versarem sobre fatos muito antigos, superiores há 14 anos, também não permitiram que outros meios de prova fossem alcançados, apesar do empenho da PF”, disse o delegado.

Ao receber o relatório, o ministro Gilmar Mendes deve encaminhá-lo para o Ministério Público, que pode pedir o arquivamento da investigação ou solicitar novas diligências.

A defesa do senador tucano afirmou, por meio de nota, que aguarda a manifestação da Procuradoria-Geral da República “na linha do que concluiu o denso relatório policial”.

“Estando comprovada a falta de envolvimento do senador Aécio Neves com os fatos que lhe foram atribuídos, a defesa aguarda a remessa dos autos à PGR e para que, na linha do que concluiu o denso relatório policial, seja requerido o arquivamento do inquérito, com sua posterior homologação”, afirmou o texto assinado pelos advogados Alberto Zacharias Toron e Luísa Oliver.

 

Supremo. Aécio ainda é alvo de outros 7 inquéritos