VINICIUS SASSINE
Delatores tentam evitar a interpretação de que escondem suas provas
A gravação pode comprometer os benefícios conquistados por Saud, diretor de relações institucionais da J&F, por Joesley, um dos donos do grupo, e por Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico. O registro num gravador de Joesley é tido como acidental. A entrega à PGR não foi um engano dos delatores, segundo fontes ouvidas pela reportagem. O movimento dos executivos do grupo, conforme essas fontes, foi no sentido de se antecipar à recuperação da gravação pela Polícia Federal (PF), que periciou o gravador usado por Joesley.
O áudio chegou à PGR na noite de quinta-feira, último dia do prazo de 120 dias dado aos delatores para complementar a delação assinada e homologada em maio. A gravação apareceu num anexo relacionado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI). O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu procedimento interno para revisar o acordo de delação.
Joesley, Saud e Silva têm até a próxima sexta-feira para se explicar sobre a gravação, na qual são relatados supostos crimes que teriam sido omitidos da colaboração, em especial uma suposta cooptação do então procurador da República Marcello Miller, em março, quando ainda estava lotado no gabinete de Janot, mais especificamente no grupo de trabalho da Lava-Jato.
A ideia dos delatores, segundo fontes próximas aos Batista, foi entregar o material considerado “sensível” às investigações, para evitar a interpretação de que escondem provas. A omissão de provas é motivo para a anulação de um acordo de delação premiada.