Correio braziliense, n. 19817, 25/08/2017. Mundo, p. 12

 

Conexão com Putin

25/08/2017

 

 

ESTADOS UNIDOS » Troca de e-mails entre diretores da campanha de Donald Trump à presidência, em 2016, expõe articulações para um encontro direto entre o presidente da Rússia e representantes do então candidato republicano

Na pilha de mais de 20 mil mensagens de corerio eletrônico entregues no mês passado pela equipe de Donald Trump na disputa pela Casa Branca, investigadores do Congresso encontraram um e-mail em que um assessor do candidato republicano relatava os esforços empreendidos para agendar um encontro entre dirigentes da campanha e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Richard Dearborn, hoje vice-chefe de Gabinete do presidente, transmitia aos destinários informações sobre o intermediário do contato com o Kremlin, identificado apenas como alguém da Virgínia Ocidental e com boas conexões políticas. A data da troca de mensagens, junho do ano passado, coincide com a de uma reunião entre o filho mais velho de Trump e visitantes russos ligados a Putin, que teriam oferecido documentos capazes de prejudicar a rival democrata, Hillary Clinton.

A revelação sobre as articulações de Dearborn, feita em reportagem da tevê CNN, realimenta o episódio batizado como “conexão russa”, que se refere aos esforços de Moscou para interferir em favor de Trump na luta pela sucessão do democrata Barack Obama. Objeto de investigação especial do FBI (polícia federal), o escândalo derrubou o primeiro conselheiro do presidente para Segurança Nacional (leia o Entenda o caso).

Embora não tivesse sido mencionado até então, no âmbito das diligências sobre as supostas relações entre o comando da campanha republicana e o Kremlin, o vice-chefe de Gabinete desponta como elo entre a “conexão russa” e outro nome de peso na equipe do presidente. Antes de se integrar à campanha, Dearborn chefiou a assessoria do senador Jeff Sessions, que dirigiu a área de política externa da candidatura Trump e hoje é procurador-geral, responsável pelo Departamento de Justiça. Sessions já prestou depoimento aos comitês do Congresso para falar sobre ao menos duas reuniões que manteve, durante a disputa pela Casa Branca, com o embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak.

Peça-chave na teia de contatos reservados estabelecidos com a equipe de Trump, inclusive no período de formação do governo, o diplomata foi o pivô da queda do ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn. De acordo com a CNN, os investigadores tratam de esclarecer se o embaixador teve um terceiro encontro com Sessions, até aqui não mencionado pelo procurador-geral. Em março passado, em audiência no Congresso, ele admitiu ter se reunido com o Kislyak duas vezes, embora tivesse omitido também essa informação quando foi sabatinado no Senado, para confirmação no cargo.

Ambos estiveram presentes, em abril de 2016, em um evento no Hotel Mayflower, em Washington, no qual Trump, ainda como pré-candidato, pronunciou um discurso sobre política externa. “É possível conseguirmos relaxar as tensões com a Rússia e melhorar as relações”, discursou o bilionário, que voltou ao assunto em debates com Hillary Clinton e elogiou a “esperteza” com que Putin teria conseguido “dar voltas” em Hillary e Obama. Também presente na ocasião, o genro de Trump, Jared Kushner, hoje conselheiro especial da Casa Branca, reconheceu que “cumprimentou brevemente” Kislyak.

Pouco antes do discurso de Trump no hotel, outro importante assessor do candidato, George Papadopoulos, enviou a diretores da campanha um e-mail intitulado “encontro com a liderança russa — incluindo Putin”. Embora a proposta tivesse sido rejeitada, Papadopoulos voltou a insistir semanas depois, de acordo com o jornal The Washington Post. “Putin quer receber a equipe de Trump, quando for a hora certa”, escreveu para Corey Lewandowski, um dos homens fortes do comitê eleitoral, no dia do evento no Mayflower.

Rabinos

Em outra frente de crise, ligada a suas declarações ambíguas sobre a violência praticada por neonazistas na Virgínia, há 10 dias, Trump recebeu uma dura condenação de organizações da comunidade judaica. Um grupo de rabinos decidiu boicotar o encontro que teria por teleconferência com o presidente, nas próximas semanas, antes dos feriados de Rosh Hashana (ano-novo) e Yom Kippur (dia do perdão).

Eclipse no Twitter

O presidente dos Estados Unidos abriu mais uma frente potencial de polêmica pelas redes sociais, retuitando uma montagem de fotos postada originalmente no Twitter por um usuário identificado como Jerry Travone. Acompanhada pelo título O melhor eclipse de todos os tempos, a sequência de imagens mostra a imagem sorridente de Donald Trump, em foto colorida, deslocando-se até se sobrepor completamente a uma foto em preto e branco do antecessor Barack Obama, que aparece com expressão sombria. O tuíte se inspirou no eclipse total do Sol, na última segunda-feira, fenômeno ao longo de todo o território dos EUA pela primeira  vez em 100 anos.