Correio braziliense, n. 19820, 28/08/2017. Política, p. 2

 

Carro e sede fantasma às custas do seu bolso

Renato Souza e Bernanrdo Bittar 

28/08/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Presidente do PHS, Eduardo Machado, é acusado de comprar uma caminhonete com dinheiro do partido e de atrasar salários dos funcionários

Enquanto o Congresso não se entende na votação da reforma política e propõe a criação de um fundo público eleitoral com valores que variam de R$ 2,1 bilhões a R$ 3,6 bilhões, os próprios políticos dão provas de que usam mal o dinheiro do contribuinte a que já têm direito para financiar as atividades partidárias.  Esses recursos, que deveriam ser usados para custear as despesas das legendas, em diversas oportunidades, servem para adquirir bens para fins pessoais de seus dirigentes. O presidente do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Eduardo Machado, por exemplo, comprou uma caminhonete, no valor de R$ 170 mil, usando dinheiro partidário. Ele também é acusado por funcionários de se apoderar da sede da legenda, em Brasília.

Quem vai até a casa luxuosa na QI 11 do Lago Sul imagina que ali funciona a sede do PHS. Ou pelo menos deveria funcionar. Mas, durante a semana, o local fica vazio. A reportagem do Correio foi até a mansão, na última sexta-feira e só encontrou um funcionário fazendo a segurança. Um cadeado impede que qualquer pessoa entre no imóvel. Nem mesmo o telefone funciona. Apesar de ter apenas sete deputados com mandato na Câmara, a sigla recebeu R$ 3,8 milhões do Fundo Partidário neste ano. O Fundo distribuiu, em 2017, R$ 819 milhões para diversos partidos.

Eduardo Machado comprou uma caminhonete, que, de acordo com denúncias de funcionários do PHS, é usada para uso pessoal dele, inclusive para se deslocar até uma fazenda da sua família, em Goiás. Além disso, ele teria usado dinheiro do fundo para alugar imóveis. Tudo isso enquanto funcionários do partido ficam sem salários.  O caso é semelhante ao do ex-vereador Eurípedes Gomes de Macedo Júnior, que comanda o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), acusado de usar verba do fundo partidário para a compra de um helicóptero.

Em abril deste ano, Eduardo Machado chegou a ficar 15 dias afastado da presidência do partido, após ser destituído em uma assembleia. Na ocasião, ele foi acusado de acumular o cargo de secretário estadual de Goiás e de receber salário como presidente da legenda, além de não estar filiado ao PHS. No entanto, a Justiça Eleitoral, que analisa o caso, considerou que ele foi afastado de forma irregular, e ele voltou a exercer a tarefa de presidir a legenda.

Machado nega as acusações e afirma que está sendo vítima de um “golpe” por parte de um grupo de dirigentes. “Não tem problema algum ocorrendo. A sede está fechada porque bandidos podem entrar. Há cerca de quatro meses, um grupo de dirigentes tentou me dar um golpe, para assumir o comando do PHS. Não tem funcionários sem salário. Apenas um está sem receber, pois foi expulso”, justifica.

Em relação ao imóvel no Lago Sul, Eduardo Machado afirma que é alugado e que está funcionando. “A casa que estamos usando atualmente é alugada. Quem for lá na terça e na quarta-feira vai perceber que está funcionando normalmente. É só chegar e entrar. A caminhonete realmente foi comprada pelo partido. Mas isso é para economizar com passagens de avião. Eu moro em Goiânia e preciso me deslocar toda semana para Brasília. De avião, ficaria muito caro. No fim do ano, ela estará na garagem do partido, à  disposição de seus integrantes”, completa Eduardo.