Título: Ação radical contra grevistas
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2012, Política, p. 2

Para esvaziar a paralisação de PMs e bombeiros decretada na madrugada de ontem, o governo do Rio utiliza uma estratégia diferente da adotada na Bahia: decide prender 11 líderes e processar policiais que aderiram ao movimento logo no primeiro dia

Após as críticas da presidente Dilma Rousseff à greve de policiais e a crise gerada na segurança pública da Bahia por 11 dias de paralisação, o governo do Rio de Janeiro deu ontem uma dura resposta aos policiais que aderiram ao primeiro dia de manifestação no estado. Por determinação do governador Sérgio Cabral, o comando da Polícia Militar abriu processos disciplinares contra pelo menos 150 praças que aderiram ao movimento, e a Justiça do Rio prendeu preventivamente outros 11 policiais, inclusive oficiais da reserva, por conclamar e incitar a greve. Em outra frente, um decreto no Diário Oficial reduziu os prazos para apuração, julgamento, recurso e aplicação de penas administrativas contra PMs e bombeiros, o que, na prática, pode fazer as expulsões das corporações se tornarem sumárias. Segundo policiais ouvidos pelo Correio, a tática empregada por Cabral coibiu a paralisia, que teve pouca adesão em todo o estado.

A presidente Dilma conversou por telefone com Cabral, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, colocou a Força Nacional à disposição do estado. Num primeiro momento, porém, o governador afirmou que o reforço não será necessário. "A situação no Rio de Janeiro é de uma greve não muito mobilizada. Acho que os policiais percebem que não podem se associar a um movimento que foi desencadeado com a perspectiva de trazer insegurança para a população", afirmou Cardozo.

Posto policial vazio na orla do Leblon, bairro de luxo da Zona Sul: governo tenta coibir o movimento com prisões

O aumento de 39% concedido pela Assembleia Legislativa do Rio na última quinta-feira não foi considerado suficiente pelos grevistas, que exigem que seja adotado o piso unificado de R$ 3,5 mil, auxílio-transporte de R$ 350 e vale-refeição de R$ 350, além de jornada semanal de 40 horas e pagamento de horas extras. Os grevistas também pedem que o cabo bombeiro Benevenuto Daciolo, preso na última quarta-feira, seja solto. A voz de Daciolo aparece em uma gravação, divulgada naquele dia, acertando com uma deputada estadual como seria a greve no estado.

A Polícia Militar fluminense afirmou que o clima em todo o estado foi de aparente normalidade. Em grande parte das delegacias e dos batalhões, incluindo as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), responsáveis pelo patrulhamento de mais de 50 favelas da capital, o policiamento não mudou. Apesar da tranquilidade, redes de cinema decidiram cancelar sessões após as 22h e uma universidade fechou as portas.

Falta ao serviço Além das punições na PM, o Corpo de Bombeiros do Rio exonerou o comandante do Grupamento Marítimo da Barra da Tijuca e outros 123 salva-vidas acabaram indiciados por faltar ao serviço. O Conselho de Disciplina da corporação também está avaliando a conduta de Daciolo, que segue preso em Bangu 1. Segundo o ex-secretário de Segurança Nacional José Vicente da Silva Filho, o governo fluminense transformou os 10 dias de greve na Bahia em um estudo de caso para lidar com os recentes acontecimentos no Rio. "Por isso Cabral agiu tão rapidamente contra os policiais grevistas", avaliou José Vicente.

Na Bahia, embora as associações de policiais envolvidas na greve não tenham se manifestado, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, afirmou que já considera a paralisação encerrada. "Tudo tem começo, meio e fim. Na minha ótica, o fim da greve está decretado", afirmou, anunciando também que a corporação pretende cortar o ponto dos grevistas. De acordo com o coronel, desde a manhã de ontem, 85% do efetivo havia retornado ao trabalho. Apenas o subúrbio de Salvador estaria pouco policiado. Até agora, foram expedidos 11 mandados de prisão contra líderes grevistas, ponto que continua impedindo um acordo entre grevistas e governo.

Gravações telefônicas O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao governador baiano, Jaques Wagner, que envie ao Ministério Público Federal as gravações telefônicas entre grevistas, para que o MPF analise se cabe pedir a abertura de uma investigação a fim de apurar se houve a prática de crimes previstos na Lei de Segurança Nacional, como sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, sistema de transporte e tentar impedir, por meio de violência ou grave ameaça, o livre exercício de poderes da União ou dos estados.