Correio braziliense, n. 19822, 30/08/2017. Política, p. 4.

 

 

Um dia de Fufuca

Bernardo Bittar e Alessandra Azevedo

30/08/2017

 

 

Jovem e de primeiro mandato, o deputado André Fufuca (PP-MA), 28 anos, será presidente da Câmara dos Deputados durante uma semana, enquanto Rodrigo Maia (DEM-RJ) assume interinamente a presidência da República na ausência de Michel Temer. A expectativa de parte dos parlamentares era que “Fufuquinha”, como é conhecido na Casa, fosse o braço forte que colocaria a reforma política para andar — mesmo sob o olhar atento do titular do cargo, hoje no Planalto.

Marcada para ontem, a sessão plenária sobre a PEC 77/2007, no entanto, não aconteceu. Fufuca esquivou-se. “As votações na sessão do Congresso Nacional tiveram um ritmo que não permitiu o início das deliberações, e é só”, afirmou ao Correio, negando questionamento sobre a interferência do governo e sobre um possível acordo com Rodrigo Maia e Temer para que a votação não andasse. O presidente interino rebateu as críticas feitas a ele por causa da pouca idade e garantiu estar se sentindo privilegiado ao comandar a Casa. “Vejo as críticas como um infeliz cenário de reprovação da juventude na política. Acho deplorável. Mas estou muito honrado de estar à frente da Câmara nos próximos dias”, complementou.

Uma vez aliado do deputado cassado Eduardo Cunha (leia Personagem da notícia), André Fufuca tornou-se, ao lado de Rodrigo Maia, grande defensor de Michel Temer na Câmara. Por isso, aguarda o retorno do chefe do Executivo ou uma instrução dele para dar andamento à reforma política, que, há dois meses, tramita no Legislativo. Questionado sobre um possível direcionamento do trabalho à frente da Câmara enquanto presidente, preferiu não comentar.

Opositores interessados em manter a reforma política enrolada veem na suposta fragilidade de André Fufuca um ponto positivo. A avaliação é que, sem força para votar temas controversos, o presidente interino terá dificuldade para conseguir colocar a agenda prioritária do governo em pauta. Segundo Glauber Braga (RJ), líder do PSol, “a ordem é obstruir as sessões, independentemente de quem estiver na cadeira da presidência”.

 

Empenho

Para o cientista político Murillo Aragão, da consultoria Arko Advice, o avanço da reforma política depende, em grande parte, do empenho dos líderes. “Quem comanda faz a diferença, mas não acho que o (Rodrigo) Maia esteja completamente fora dessas negociações. Se quiserem, eles conseguem votar a matéria nesta semana. Não acho que o Fufuca, mesmo tendo surgido na presidência por uma injunção do destino, vá criar problemas”, afirma o especialista.

Criticado por alguns colegas, Fufuca conta com o apoio dos aliados. “Ele tem força e é independente. Mostrou firmeza quando presidia uma sessão no plenário da Câmara dos Deputados e 40 mil pessoas da CUT ameaçaram colocar fogo na Esplanada dos Ministérios. Pediram que ele suspendesse a solenidade, mas ele não o fez. Ficamos duas horas, votamos e resolvemos as seis medidas que deveriam ser votadas naquela ocasião”, afirmou o vice-líder do governo na Casa, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Durante discurso em plenário, o deputado Zé Carlos (PT-MA) também mostrou-se solidário ao presidente interino da Câmara. “Tempo não é documento, idade não é documento. Deixo aqui registrado meu repúdio sobre os comentários contra Fufuca. Ele não chegou à 2ª presidência da Casa por acaso. Teve votos aqui dentro e deve ser respeitado.”