Título: Anistia favorece onda de paralisações
Autor: Filizola, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2012, Política, p. 4

Especialistas reforçam o posicionamento da presidente Dilma e avaliam que o perdão dos crimes é um estímulo a novas greves de policiais militares pelo país

Uma das principais reivindicações do movimento dos policiais militares grevistas na Bahia é a de concessão de anistia após o fim da paralisação. O pedido já foi negado pelo governador do estado, Jaques Wagner, e tem causado um impasse nas negociações. E, se depender do governo federal, não haverá qualquer manobra para perdoar os policiais. Depois da afirmação da presidente Dilma Rousseff de que anistiar significa tornar o Brasil "um país sem regras", o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reforçou ontem a posição oficial do Planalto e disse que o governo federal é contrário a qualquer forma de perdão. "A nossa posição é muito clara. Não é possível que pessoas que tenham atuado praticando crimes e em situações de vandalismo sejam pura e simplesmente ignoradas nos atos que praticaram", condenou ele.

A postura dos grevistas também é criticada por especialistas e parlamentares ouvidos pelo Correio. Segundo o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança, a anistia hoje se tornou pouco seletiva. Para ele, a impunidade com que esses grevistas são tratados torna-se, na verdade, um incentivo aos movimentos. "As duas partes têm que saber que têm muito a perder. Porém, no caso dos grevistas, eles acham que não vão perder nada. Já foram anistiados antes e esperam novamente", analisa o especialista.

Para o diretor e advogado da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais (Feneme), Elias Miler da Silva, como a Constituição veda a greve para a categoria, as ações de vandalismo precisam ser ainda mais sérias. "Entendo que são ações de bandidos. E é preciso punir", afirmou ele.

Os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Pedro Taques (PDT-MT) também criticaram a possibilidade de anistia. "Movimento armado é coisa de bandido. Não deve haver nenhuma espécie de entendimento. Se fosse o governador da Bahia, encerraria as negociações agora. O próprio Palácio do Planalto já sinalizou ser contra a anistia", argumenta o parlamentar. "Estamos banalizando o instituto da anistia, que deveria ser usado somente para momentos históricos de perdão. Não adianta anistiar, é preciso combater a causa desse mal com a aprovação da PEC 300", avalia o senador Taques.

Pressão O deputado federal Fernando Francischini (PSDB/PA), vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, disse ser contra a anistia para os policiais grevistas. Segundo ele, os PMs não cometeram infrações disciplinares e sim, crimes. "É preciso condenar. Eles estão cometendo crimes com o pretexto de uma greve", analisa o parlamentar paranaense, que é licenciado da Polícia Federal.

Segundo o coronel José Vicente da Silva Filho, a disposição da presidente Dilma de se colocar contra a anistia serviu como um instrumento de pressão do governador baiano sobre as partes que estão negociando.

Deu no... A uma semana do carnaval, a greve dos policiais militares no Rio de Janeiro e na Bahia repercutiu nos principais jornais do mundo. Confira:

Le Monde O jornal francês destacou a paralisação da polícia baiana e carioca a poucos dias do carnaval. No texto, citou o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para quem o movimento seria uma orquestração nacional para tentar criar um "clima de insegurança" às vésperas de uma das maiores festas do país.

The New York Times O jornal norte-americano repercutiu o início da paralisação da polícia no RJ, lembrando que ela ocorre 10 dias após o começo da baiana. De acordo com a reportagem, "uma greve poderia ser ainda mais tumultuada no Rio, especialmente durante o carnaval, quando multidões de turistas tomam as ruas e os crimes violentos são uma preocupação mesmo quando a polícia está trabalhando normalmente".

El Pais O veículo espanhol destacou que o movimento dos policiais cariocas se soma à greve dos PMs na Bahia a uma semana do carnaval em ambas as capitais. De acordo com a reportagem, sindicatos em outros seis estados brasileiros também planejam se juntar às paralisações. Na matéria, o El País afirma que o conflito na Bahia revela as deficiências do sistema de segurança público brasileiro e põe o governo federal à prova.

Clarin.comX O argentino Clarín publicou uma reportagem ontem em seu site destacando que a greve baiana foi um fracasso para os policiais, que depois de 10 dias deixaram a Assembleia Legislativa da cidade sem entrar em um acordo com o governo estadual. Porém, eles destacaram que, simultaneamente, a polícia carioca entrou em greve.