O globo, n.30710 , 05/09/2017. PAÍS, p. 7

PF prende 79 acusados de tráfico de drogas

CHICO PRADO

 
 
 
Quadrilha atuava no Porto de Santos, com ajuda de funcionários, e enviava cocaína para o Leste Europeu

A Polícia Federal prendeu ontem 79 pessoas, entre elas 28 funcionários do Porto de Santos, acusadas de tráfico internacional de drogas. A Operação Brabo, realizada em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal, identificou indícios de participação de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que age a partir dos presídios de São Paulo.

Agentes da PF tiveram acesso a imagens do circuito interno do porto paulista em que funcionários aparecem facilitando a entrada de veículos com carregamentos de cocaína, que eram misturados a outras mercadorias prestes a embarcar. Segundo o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, não foi identificada uma liderança, mas uma estrutura de negócio que privilegiava todos da mesma forma.

— Durante a investigação, nós descobrimos que algumas estratégias efetivadas pelo grupo contavam com a participação de membros de facções criminosas aqui do Brasil. Seja na logística do transporte do entorpecente, seja na aquisição. Aqui em São Paulo, sim (havia integrantes do PCC) — disse Galli, ao lembrar que a capital paulista foi apontada como a cidade usada para o armazenamento da cocaína que era mandada para fora do país. A facção criminosa foi o único grupo citado diretamente pelo delegado.

Antes de ser embarcada em portos brasileiros com destino à Europa, a droga enviada ao Brasil a partir de países andinos, como Colômbia, Bolívia e Peru, chegava ao país de caminhão, helicóptero ou avião. O que entrava no Brasil por via aérea, em muitos casos, utilizava pistas de pouso clandestinas que ainda não foram identificadas pela investigação.

Segundo a PF, o grupo teria traficado mais de seis toneladas de cocaína com 90% de pureza para a Europa desde o início das investigações, em agosto de 2016. As equipes analisaram cinco apreensões realizadas entre os meses de agosto de 2015 e julho de 2016, três no Porto de Santos e duas em um porto na Rússia, procedentes de Santos e com características que indicavam a mesma origem.

Nesse período, foram realizadas outras 16 apreensões da droga nos portos de Santos, Salvador (Bahia) e Itajaí (Santa Catarina). A polícia também alertou autoridades internacionais para que interceptassem carregamentos que já haviam sido remetidos a portos de cinco países: Bélgica, Inglaterra, Itália, Espanha e França.

Além dos 79 presos, foram apreendidos R$ 425 mil, US$ 149 mil, € 6.700, cinco pistolas, carros importados e três quilos de cocaína. Entre os detidos, 73 foram no estado de São Paulo, e os demais, em Minas Gerais e no Distrito Federal.

 

ESTRANGEIROS PRESOS

A operação foi às ruas para cumprir 190 mandados de busca e apreensão e 127 de prisão, após um ano de investigações com a colaboração do DEA (departamento norteamericano de combate ao tráfico de drogas).

Boa parte da cocaína era enviada a países do Leste Europeu, entre eles a Sérvia. Dois sérvios estão entre os presos detidos em São Paulo, o que reforça o modo de agir de traficantes internacionais. Muitos se instalavam no Brasil e levavam uma vida aparentemente normal, antes de partirem para o tráfico com a ajuda de brasileiros.

— Os criminosos, normalmente, se instalam no Brasil e constituem família. Eles demonstram ter a intenção de permanecer no país e, depois, passam a fazer as negociações criminosas. Mantêm contatos com a Europa e criam contatos no Brasil. Com essas duas pontas, eles conseguem fazer as transações criminosas. É o caso dos dois sérvios (que foram presos). São diversos organismos criminosos que se unem pontualmente, visando ao lucro pessoal — contou o delegado Aguinaldo Mendonça Alves.

Não há indícios de participação de empresários que atuam nos portos brasileiros, mas a hipótese está sendo investigada e será considerada ao longo do processo. A operação foi batizada de Brabo em referência a um soldado romano que teria libertado habitantes do Rio Escalda, na Antuérpia, um dos destinos da cocaína, de um gigante.

 

Números
 

190 MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO - Operação cumpriu determinações da Justiça em cinco estados e no DF

127 MANDADOS DE PRISÃO - Setenta e nove pessoas foram presas, entre elas, 28 funcionários do Porto de Santos

73 PRESOS - Número de detidos no estado de São Paulo. Demais mandados foram cumpridos em MG e no DF

6 TONELADAS DE COCAÍNA - foram enviadas à Europa pelo grupo desde agosto de 2016