Título: Comemoração e vaias
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2012, Política, p. 6

Sem Lula, PT festeja 32 anos com palmas a José Dirceu e coro contra o neoaliado Gilberto Kassab

Erich Decat

A festa de 32 anos do PT, promovida ontem em Brasília, foi a primeira sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em fase final do tratamento contra o câncer na laringe, Lula optou por permanecer em São Paulo, seguindo os conselhos médicos. Mas estava presente em cada um dos símbolos da festa. Na mensagem lida pelo presidente do PT, Rui Falcão; na presença, sob vaias, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), com quem articula apoio ao ex-ministro Fernando Haddad; e na própria estratégia de deixar o ex-ministro da Educação entrar por último, depois até da presidente Dilma Rousseff, como uma maneira de aferir o prestígio junto à militância petista.

O PT também, que nos últimos anos foi criticado por alguns ao ter abandonado bandeiras históricas, por outros ao ter adotado um modelo neoliberal, montou uma festa mais à esquerda. Antes do Hino Nacional, foi tocada a Internacional Socialista. A canção foi repetida na homenagem a Apolônio Carvalho, que combateu o franquismo na Espanha e o nazismo na Alemanha. Diante de Kassab, mas sem a presença do vice-presidente Michel Temer, os petistas quiseram mostrar que os anos no poder não os atiraram tão ao centro como acusam seus opositores.

A celebração da identidade do PT e de um "modo petista de governar" permeou o discurso de Dilma. A presidente agradeceu os partidos da base de sustentação de seu governo, "uma coalizão que tem se revelado leal e eficaz", segundo Dilma. "Mas este é também um governo do PT, seu principal partido de sustentação", enfatizou a presidente, em um momento em que setores do partido reclamam da perda de espaço na Esplanada.

Outra ausência percebida foi a da senadora Marta Suplicy (SP). Crítica da parceria com o PSD em São Paulo — "tenho que ser cautelosa para não acordar de mãos dadas com Kassab em um palanque" —, ela mandou uma nota lida em plenário parabenizando o PT pelos seus 32 anos, o ex-presidente Lula e a presidente Dilma pelas gestões que mudaram o país. Mas deixou o seu recado ao final, mostrando que o partido ainda terá de trabalhar para conquistar seu apoio: "O PT sempre fez valer suas bandeiras históricas sem nunca abrir mão de seus princípios".

Comparações Ao longo de todo o dia de ontem, a cúpula do PT se concentrou na diferenciação entre o "modo petista de governar" e gestões anteriores na esfera federal como principal arma da legenda para as campanhas eleitorais municipais deste ano. "Temos que nos distinguir na defesa de nosso projeto de governo, para que os nossos adversários não surfem na onda do nosso sucesso", disse o presidente da sigla, Rui Falcão, à plateia reunida no Encontro Nacional de Prefeitos e Deputados Estaduais do PT.

O foco da comparação entre os nove anos de governo petista e as administrações anteriores está no debate entre as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso e o recente processo de concessões em aeroportos feitas pelo governo federal. "Nunca fomos contra concessões de serviços públicos. Quando falávamos contra os pedágios, estávamos atacando o modelo adotado pelo governo anterior, com tarifas escorchantes e reduzido retorno ao cidadão", argumentou Falcão.

Durante o encontro, foi divulgada a Carta de Brasília em que demonstraram que não pretendem perder o espaço conquistado nas últimas eleições. "Nossa meta é manter os municípios que governamos, reconquistar cidades que perdemos e avançar eleitoralmente em cidades estratégicas", diz trecho do documento.

Aliado indesejado Em franca manobra de aproximação com o PT na campanha de eleição municipal da capital paulista, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, amargou uma sonora vaia da militância — enquanto o ex-presidente do partido e deputado cassado José Dirceu foi ovacionado. O presidente do PT, Rui Falcão, deixou claro o incômodo com a costura do apoio pessedista, ao prevenir o partido contra "alianças fáceis", em seu discurso. A senadora Marta Suplicy (PT-SP) se recusou a ir à solenidade, em protesto contra a presença de Kassab.