Correio braziliense, n. 19825, 02/09/2017. Política, p. 3.

 

 

JBS corre atrás de provas

Renato Souza

02/03/2017

 

 

Mais de três meses depois da denúncia que paralisou o país, os donos da JBS acabam de ganhar mais 60 dias para apresentar dezenas de documentos, com planilhas detalhando o esquema de corrupção nos fundos de pensão e no BNDES. Joesley Batista e o irmão, Wesley, além de ex-executivos do grupo J&F, que controla a JBS, prometem entregar mais de 50 anexos que revelam o pagamento de propina para políticos. O empresário Joesley Batista e o irmão, Wesley Batista, já repassaram aos investigadores novas planilhas e gravações que comprometem autoridades do alto escalão do governo.

Na quinta-feira, Joesley entregou arquivos do mesmo gravador que ele utilizou na conversa com o presidente Michel Temer. Os áudios que estavam no aparelho foram apagados antes de serem entregues aos investigadores. No entanto, Joesley havia copiado as gravações para um computador pessoal. Na tentativa de manter os benefícios já adquiridos mediante acordo de colaboração premiada, o empresário vasculhou documentos físicos e virtuais para encontrar novas provas. Mesmo antes dele entregar os novos arquivos, peritos da Polícia Federal já tinham recuperado 40 horas de gravações, que registram conversas gravadas por Joesley com autoridades.

A correria para obter os documentos ocorreu pela proximidade do prazo final concedido pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), para a inclusão de novos anexos no processo. Como a defesa dos executivos informou que seria possível incorporar ainda mais documentos aos autos, caso tivesse mais tempo, o ministro decidiu por ampliar o tempo de apresentação de provas. Até o momento, foram juntados 42 anexos ao processo. Ou seja, os novos arquivos representam uma quantidade maior de documentos do que os que já foram enviados à Justiça.

 

4.000%

 

Em depoimento ao Ministério Público, Joesley Batista afirmou que pagava cerca de R$ 200 milhões em propina para que políticos facilitassem empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para a JBS. Os recursos permitiram que a empresa apresentasse um crescimento de 4.000% entre 2006 e 2016 nos governos Lula e Dilma. De acordo com um levantamento da ONG Contas Abertas, a JBS recebeu R$ 6 bilhões do banco em 10 anos. Com esse dinheiro, o frigorífico expandiu os negócios para todo o Brasil e chegou a outros países.

Joesley também relatou o pagamento de propina para conseguir vantagens nos fundos de pensão. Além de repassar o dinheiro ilegal para executivos, Joesley também confirmou pagamentos para o PT. “(Era uma) situação análoga, idêntica ao BNDES, com uma diferença apenas: nos fundos, eu pagava propina também pro dirigente e também pro PT, pro tesoureiro. Tinha uma planilha que eu abria 1% pro dirigente, 1% pro presidente do fundo, 1% pro PT, que era administrado pelo Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido)”, declarou Joesley.

O dono da JBS também afirmou que apresentava extratos regulares dos depósitos ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os fundos de pensão são geridos por entidades que administram a aposentadoria complementar dos trabalhadores. As fraudes apontadas por Joesley ocorreram nos recursos destinados aos funcionários de empresas estatais, que estão armazenados em contas do Petros, da Petrobras, e a Funcef, da Caixa Econômica.

Com base na delação de Joesley, o Ministério Público Federal acusa o presidente Michel Temer de conceder “anuência” à JBS para repassar dinheiro ao ex-deputado Eduardo Cunha. A intenção era fazer com que ele não firmasse um acordo de delação premiada.

Em nota, a JBS afirmou que seus integrantes mantêm o compromisso de continuar colaborando com as autoridades. “Nossos colaboradores apresentaram, dentro dos prazos legais estabelecidos, informações e documentos que complementam os esclarecimentos prestados previamente à Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição para cooperar com a Justiça”, destaca comunicado da empresa.

 

 

R$ 200 milhões

Valor que Joesley Batista afirmou que pagava em propinas para que políticos facilitassem empréstimos do BNDES