Correio braziliense, n. 19826, 03/09/2017. Política, p. 4.

 

 

"Ladrão-geral da República"

03/09/2017

 

 

O empresário Joesley Batista, controlador da J&F, chamou o presidente Michel Temer de “ladrão-geral da República” e disse que ele “envergonha” a todos os brasileiros. Delator da Lava-Jato, o executivo afirmou em nota que a colaboração premiada é um direito e que o ataque a essa prerrogativa revela a “incapacidade” do chefe do Executivo em se defender “dos crimes que comete”.

As declarações do empresário foram uma resposta a outra nota, divulgada na sexta-feira, pela Secretaria de Comunicação da Presidência. O bate-boca só antecipa a tensão diante da nova denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar contra Temer. Na ocasião, o Planalto desqualificou o operador Lúcio Funaro, que firmou acordo  com o Ministério Público Federal (MPF), e se referiu a Joesley como “grampeador-geral da República.”

“A colaboração premiada é, por lei, um direito que o senhor presidente da República tem por dever respeitar. Atacar os colaboradores mostra no mínimo a incapacidade do senhor Michel Temer de oferecer defesa dos crimes que comete. Michel, que se torna ladrão-geral da República, envergonha a todos nós brasileiros”, respondeu Joesley.

O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defensor de Temer, afirmou que as declarações do empresário “não merecem nenhuma resposta em face da sua origem e do conhecido comportamento absolutamente reprovável do delator”. O depoimento de Joesley serviu como base para a primeira denúncia apresentada contra Temer por Janot, por corrupção passiva. O executivo da JBS gravou um encontro que teve com o chefe do Executivo no Palácio do Jaburu à noite. “A resposta já foi dada pela Câmara, que rejeitou a denúncia baseada na acusação dessa mesma pessoa”, disse Mariz.

Na expectativa de uma nova acusação, Temer decidiu antecipar a estratégia de forte reação política ao conteúdo da delação de Funaro, ainda sob sigilo. As acusações do operador devem atingir outros caciques do PMDB. O temor de auxiliares do presidente é o conteúdo da delação potencializar a crise e paralisar as negociações para a aprovação da nova meta fiscal, das medidas para reduzir os gastos e da reforma da Previdência.

Em entrevista ao Jornal da Band, veiculada na noite de ontem, Temer disse que espera “singeleza e inépcia” da peça de Janot e negou que teria cogitado antecipar o retorno ao Brasil a fim de se dedicar à sua defesa.

Diante da perspectiva de piora dos ânimos entre o Executivo e o Legislativo, deputados do centrão, grupo composto por PSD, PP, PTB e PR, exigem substituição do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB), responsável pela articulação política, para renovar o apoio a Temer.