Correio braziliense, n. 19828, 05/09/2017. Política, p. 3.

 

 

Ministro critica sigilo de gravação

Renato Souza

05/09/2017

 

 

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, criticou a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de não divulgar os nomes dos integrantes do Ministério Público Federal e do STF citados nas novas gravações. De acordo com o ministro, isso coloca todos os magistrados que integram a Corte e procuradores da PGR sob suspeita. “O correto seria dar nome aos bois. Em nome da transparência, o procurador deveria ter citado os nomes dos envolvidos nestas novas acusações. Da forma como foi dito, a população fica achando que todos os ministros do STF e todos os procuradores estão envolvidos em atitudes ilícitas”, afirmou.

Ao apresentar seu relatório sobre os fatos encontrados nos documentos entregues pela defesa dos executivos da J&F, Rodrigo Janot citou apenas o nome do ex-procurador Marcelo Miller. No entanto, destacou que as suspeitas não recaem apenas sobre o Ministério Público, mas atingem também a Suprema Corte. “Em determinado momento da gravação, na parte do processo que trata de um parlamentar (Ciro Nogueira), os delatores conversam sobre um assunto que em nada tem a ver com os processos imputados a ele. Esse trecho faz referência a acusações muito graves que envolvem o STF e a PGR. Todos que erraram e cometeram crimes vão pagar por isso”, destacou Janot.

 

Atuação

Entre os integrantes do MPF e do STF, o clima é de apreensão, mediante a citação de integrantes dessas instituições, que devem zelar pela lei. O ministro Gilmar Mendes, do STF, preferiu manter o silêncio. Procurado pela reportagem, afirmou que está no exterior e que não vai comentar o caso.

Ao deixar o serviço público para atuar como advogado, o ex-procurador Marcelo Miller tinha sido criticado pela opinião pública e pela defesa de alguns acusados. Ele atuou por alguns meses no escritório de advocacia que representa a JBS nos processos envolvendo os executivos da empresa. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, tem conhecimento do conteúdo das gravações. A ministra foi avisada por Janot da gravidade das novas provas horas antes de os fatos serem divulgados.