Correio braziliense, n. 19829, 06/09/2017. Política, p. 2.

 

 

Aonde vamos parar?

Roberto Fonseca e Hamilton Ferrari

06/09/2017

 

 

Enquanto Brasília fervia com a repercussão e os desdobramentos da investigação de um novo áudio que ameaça implodir a delação premiada da JBS, vinha da Bahia a imagem que ilustra o momento de descrença da população com a classe política. Em um imóvel vazio na Rua Barão de Loreto, no bairro da Graça, área nobre de Salvador, policiais federais realizaram a maior apreensão de dinheiro vivo da história do país. Oito caixas de papelão e sete malas abarrotadas de cédulas de dólares e reais foram encontradas em um apartamento que seria utilizado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), que ocupou a Secretaria de Governo no início do governo Temer.

Os mais de R$ 51 milhões estavam em um apartamento que teria sido emprestado ao ex-ministro para que guardasse os pertences do seu pai, já falecido. Durante as investigações sobre Geddel na Operação Cui Bono? (que em latim significa a quem interessa?), surgiu a suspeita de que ele usava o local para esconder provas de atos ilícitos e dinheiro em espécie. A investigação sobre o ex-ministro, que cumpre prisão domiciliar sem tornozeleiras eletrônicas na capital baiana, é mais um capítulo da Operação Lava-Jato, que, em suas mais de 45 fases até agora, leva a população a fazer a seguinte pergunta: aonde vamos parar?

Na capital federal, em um pronunciamento em vídeo, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, determinou a abertura de “uma investigação imediata” sobre as menções a integrantes da Corte feitas pelo empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud, ambos da JBS, no áudio gravado por eles e entregue ao Ministério Público Federal na quinta-feira passada (leia mais na página 3). Segundo a ministra, a dignidade institucional do STF e a honorabilidade de seus integrantes foram agredidas “de maneira inédita na história do país”.

Ainda em Brasília, o ministro Édson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo, validou a delação premiada do doleiro e operador do PMDB Lúcio Funaro (leia mais na página 4). Pressionado pelo desgaste após as revelações da nova gravação de Joesley, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve se valer das acusações de Funaro para embasar uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.

 

Despedida

Janot, que será substituído por Raquel Dodge no comando da Procuradoria-Geral da República no próximo dia 18, fez ontem um discurso de despedida na última sessão como presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal (leia mais na página 5), e denunciou ao Supremo Tribunal Federal por crime de organização criminosa os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff; os ex-ministros Antonio Palocci Filho, Guido Mantega, Edinho Silva e Paulo Bernardo; a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.

E os casos de corrupção não param por aí. Teve ainda o Ministério Público Federal pedindo o bloqueio de até R$ 1 bilhão do patrimônio de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB); do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, o “Rei Arthur”; e de Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia do empresário. O objetivo, segundo procuradores, é reparar os danos causados pelo trio em relação à fraude na escolha da sede da Olimpíada Rio 2016, o último grande evento esportivo que encheu de orgulho os brasileiros (leia mais na página 18), mas que, a cada  dia que passa, mostra o tanto que custou aos combalidos cofres públicos.

Por fim, a terça-feira teve um mercado que amanheceu eufórico com o possível enfraquecimento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) chegou a 73.179 pontos, próximos do topo histórico de 73.900, ocorrido em maio de 2008. No decorrer do dia, o mercado local ajustou ao cenário internacional, que derrubou bolsas nos Estados Unidos e na Europa. Com isso, o Ibovespa chegou a ficar no vermelho, mas reagiu e terminou em alta de 0,03%, cotado a 72.150 pontos. O dólar caiu 0,57% e fechou o dia em R$ 3,119. Na contramão da melhora da Bolsa, as ações da JBS, que faz parte do grupo J&F, despencaram 8,27% com o escândalo.