Correio braziliense, n. 19830, 07/09/2017. Política, p. 5.

 

Janot sob fogo cruzado

Natália Lambert

07/09/2017

 

 

No começo do ano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, achava que, em 17 de setembro, quando o mandato chegasse ao fim, conseguiria se aposentar e se preocupar somente com o desempenho do time do coração, o Atlético-MG. Entretanto, as colaborações premiadas do grupo J&F frustraram os planos e vão obrigá-lo a permanecer no Ministério Público Federal (MPF), até para se manter com foro privilegiado caso seja investigado. Ainda na ressaca da divulgação do áudio entre Joesley Batista e Ricardo Saud, procuradores divergem sobre os rumos da investigação.

Uma pessoa próxima a Janot afirma que o sentimento dele ao escutar a gravação foi de decepção, principalmente, em relação ao colega citado, Marcelo Miller. “E não há como não se decepcionar, mas lidamos com pessoas, com suas virtudes e defeitos.” Para o procurador, o clima no Supremo Tribunal Federal é de solidariedade, à exceção do ministro Gilmar Mendes, que voltou a criticar a gestão do procurador ontem. “Um clima tenso, óbvio, pois os fatos ajudam na investida do governo para tentar desqualificar a colaboração. São dois procuradores cooptados pelo crime organizado. O diferencial é como as instituições agem para enfrentar isso”, comenta.

Um integrante do grupo de trabalho da Operação Lava-Jato acredita que o episódio não afeta a credibilidade do chefe do MPF, que ainda tem um “farto bambuzal” pela frente. “Nesse primeiro momento, os adversários aproveitarão para contra-atacar, o que não deixa de ser uma prova de que estamos no rumo certo, em que pese os buracos da estrada. Basta reparar quem está atacando e o que estão defendendo. Mas, quando a poeira abaixar, ficará claro que o instituto da delação premiada é importantíssimo e tem mecanismos eficientes para preservar e assegurar a prevalência do interesse público”, diz o procurador da República.

Entretanto, procuradores da República mais ligados à futura chefe, Raquel Dodge, acreditam que os erros são fruto do açodamento de Janot e isso prejudicou a imagem de toda a instituição. “Corremos o risco de anularem todos os processos envolvendo a delação da JBS. Espero que a serenidade da Dodge venha para corrigir essas distorções”, afirma outro integrante do MPF, que prefere não se identificar. No Congresso, a base aliada do presidente Michel Temer já se arma de argumentos para enfraquecer uma possível segunda denúncia que deve ser apresentada por Janot.