Correio braziliense, n. 19833, 10/09/2017. Política, p. 2.

 

Siga o dinheiro, o mote dos investigadores

Anna Russi

10/09/2017

 

 

As operações contra corrupção no país, realizadas pela Polícia Federal, recuperaram mais de US$ 191 milhões para os cofres públicos. A cada ação dos investigadores, os recursos são depositados em contas judiciais e posteriormente o destino é determinado por decisão da Justiça. Mas não é lá uma tarefa das mais simples. Nem sempre é possível fazer flagrantes como o do ex-ministro peemedebista Geddel Vieira Lima, suspeito de guardar R$ 51 milhões em malas.

Mesmo com os flagrantes, cada vez mais estarrecedoras, a parte recuperada ainda é ínfima. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Rede Nacional de Laboratórios de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro (Rede-LAB), até 2016, foram identificados cerca de R$ 35 bilhões com indícios de ilicitude, os quais não podem ser confirmados com originalidade nos crimes de corrupção.

Uma das ações que ilustra os esforços para coibir os desvios de conduta e os crimes é a Operação Lava-Jato. Somente nesse caso já foram recuperados US$ 716 milhões para a Petrobras, provenientes de colaborações premiada e acordos de leniência, e mais de US$ 113 milhões para o país. Os números, porém, podem chegar a R$ 10 bilhões ao longo de três anos — esses valores já foram devolvidos ou estão em processo de recuperação. No mensalão, por exemplo, somente U$ 15 mil retornaram ao país, e na Operação Anaconda mais de US$ 19 milhões foram devolvidos.

Dados da pasta ainda apontam que US$ 224,4 milhões foram repatriados após a formalização de processos de cooperação jurídica internacional, incluindo outros crimes além de corrupção. No caso de Geddel, ex-integrante dos governos Temer, Dilma e Lula, ele preso por ocultação de recursos e lavagem de dinheiro. A medida é resultado da Operação Tesouro Perdido, onde foram encontrados R$ 42 milhões e mais US$ 2,6 milhões em um imóvel supostamente usado para guardar bens do pai dele, morto em 2016.

O flagrante foi um desdobramento das investigações da Operação Cui Bono, na quarta fase, que investiga cobrança de propina para liberação de empréstimos da Caixa. No despacho que autorizou a ação da Polícia Federal, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal (DF), afirmou que o ex-vice-presidente do banco público persiste na prática de delitos de forma “sorrateira”.

 

Repatriação

Além disso, o magistrado autorizou buscas e apreensão de documentos na casa da mãe de Geddel, que fica no mesmo prédio em que o político mora. Os investigadores temiam que provas fossem destruídas ou escondidas na residência da viúva, dada a proximidade. O peemedebista estava em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, por decisão do desembargador Ney Belo, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, desde o dia 13 de julho. Ele havia sido preso 10 dias antes sob suspeita de pressionar o doleiro Lúcio Funaro a desistir de firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

Dados do MPF apontam que somente 1ª instância os crimes já denunciados na Lava-Jato envolvem pagamento de propina de cerca de R$ 6,4 bilhões. Até 31 de agosto, R$ 10,3 bilhões são alvo de recuperação por acordos de colaboração, sendo R$ 756,9 milhões repatriados e R$ 3,2 bilhões em bens de réus já bloqueados. Os procuradores cobram de a título de ressarcimento de multas R$ 38,1 bilhões pelos crimes cometidos. As ações no STF propostas pelos procuradores já resultaram na repatriação de R$ 79 milhões.