O Estado de São Paulo, n. 45526, 13/08/2015. Política, p.A7
Por: Breno Pires / Rafael Moraes Moura
Breno Pires
Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA
O ex-procurador da República Marcello Miller pediu ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determine a tomada de depoimento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de outros integrantes do Ministério Público Federal, para esclarecimento sobre as suspeitas que lhe foram lançadas a partir do áudio da conversa entre os delatores do Grupo J&F Joesley Batista e Ricardo Saud. Na semana passada, a Procuradoria-Geral da República pediu a prisão de Miller.
O ex-procurador, que faz diversas críticas a Janot na manifestação, também coloca à disposição do STF o sigilo bancário e o sigilo fiscal e se diz pronto para prestar novo depoimento se necessário.
Além do procurador-geral, Miller pede que sejam ouvidos o chefe de gabinete de Janot, Eduardo Pelella, o procurador da República Fernando Alencar e o promotor Sergio Bruno Cabral Fernandes, integrante do Grupo de Trabalho da Lava Jato na PGR. A finalidade dos depoimentos, segundo o ex-procurador, é esclarecer “se, em algum momento, o requerente (Miller) lhe solicitou que intercedesse de qualquer forma em favor da empresa J&F Investimentos S. A.”. Um quinto nome é o do ex-assessor do próprio Miller, Marcos Gouveia, para que informe se ele pediu o acesso a dados das empresas do grupo J&F ou de operações das quais elas poderiam ser alvo.
Pronto. A principal crítica de Miller a Janot é a de que o pedido de prisão apresentado contra ele já estaria pronto antes mesmo de o ex-procurador terminar de prestar depoimento no Rio, na sexta-feira, o que seria “açodamento e precipitação”.
Miller afirma que “o direito constitucional ao contraditório e ampla defesa (...) vem sendo gravemente prejudicado em razão do modo açodado de agir do parquet (MPF) neste caso”. E diz que Janot, “embora não confira credibilidade alguma a parte significativa do conteúdo do áudio, curiosa e contraditoriamente o considera idôneo o suficiente para atribuir ao requerente a prática dos crimes de exploração de prestígio, obstrução de investigações e pertinência a organização criminosa, bem como para justificar um pedido de prisão”.
A alegação da PGR ao pedir a prisão de Miller é a de que ele teria cometido crimes de participação em organização criminosa, exploração de prestígio e obstrução a investigações. O ex-procurador nega todos eles.
Procurador-geral. Janot participa de evento em Brasília
Carteira da OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu proibir temporariamente a atuação como advogado de Marcelo Miller. A carteira da OAB dele será suspensa hoje.
Thiago Faria
Renan Truffi / BRASÍLIA
Recém-criada no Congresso, a CPI mista da JBS tem cerca de um terço de seus atuais integrantes financiado pela empresa, líder mundial de processamento de carnes. Ao todo, foram cerca de R$ 4 milhões doados para as campanhas que elegeram 15 parlamentares dos 49 que fazem parte do colegiado.
A comissão, que ontem teve a sua primeira reunião de trabalho, ainda tem 19 vagas para serem preenchidas. A maior parte é do PMDB do Senado, que deve indicar os nomes apenas hoje. Ao todo, dez dos 23 senadores da bancada peemedebista receberam doação da JBS durante suas campanhas.
A reunião de ontem da CPI foi marcada pela polêmica em torno da escolha do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) como relator. Integrante da tropa de choque do presidente Michel Temer no Congresso, a indicação foi articulada pelo Planalto, que queria alguém alinhado ao governo no cargo.
Marun é um dos que receberam da JBS. Ao todo, foram R$ 103 mil doados para a campanha que o elegeu em 2014. Questionado, o deputado disse não ver constrangimento em ser relator de uma CPI que tem como um dos objetivos investigar os termos do acordo de colaboração que a empresa firmou com o Ministério Público Federal.
A escolha provocou a saída de ao menos dois senadores do colegiado. Ricardo Ferraço (PSDBES) e Otto Alencar (PSD-BA) desistiram de integrar a CPI.