Título: Carta da CNBB a Dilma
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2012, Brasil, p. 7

Pouco mais de uma semana após a nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, declarar que aborto era uma questão de saúde pública, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) anunciou ontem que enviará uma carta à presidente Dilma Rousseff reafirmando seu posicionamento contrário à interrupção de gravidez. A entidade não vai divulgar o texto antes de emiti-lo à Presidência, mas o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, afirmou que a declaração da ministra "incomodou muita gente", não somente a entidade.

O presidente da confederação, dom Raymundo Damasceno, embora tenha evitado a rota de colisão com Menicucci, deixou claro que a frase causou desconforto: "Claro que estranha, logo no início do trabalho no ministério, a ministra abordar uma questão que sabemos que é muito discutida na sociedade. E há outros temas, evidentemente, mais importantes a serem tratados", criticou o cardeal, depois de afirmar que a presidente é livre para escolher seus ministros.

Tanto a CNBB como a ministra defendem que o debate sobre o direito à interrupção da gravidez não se trata de uma discussão ideológica. Ao tomar posse no último dia 7, Menicucci afirmou que, como sanitarista, considerava o aborto uma questão de saúde pública, não ideológica.

Durante a coletiva na sede do CNBB sobraram críticas também para o Ministério da Saúde. Dom Raymundo Damasceno condenou a campanha da pasta contra a Aids, que incluirá a distribuição de camisinhas para a população durante o carnaval. O cardeal Steiner criticou ainda o corte de mais R$ 5 bilhões do orçamento da Saúde para este ano: "Conhecemos realidades em que faltam médicos e ambulatórios. Há necessidade de mais investimentos para a saúde".

Compromisso eleitoral Durante as eleições de 2010, pressionada a se declarar antiaborto, a então candidata à Presidência Dilma Rousseff assinou um compromisso com religiosos. Na "Carta ao povo de Deus", ela prometeu não incentivar o debate sobre a descriminalização da interrupção da gravidez e sobre a união civil de homossexuais.