O Estado de São Paulo, n. 45256, 13/08/2017. Política, p.A9

 

 

Restrição a pesquisas avança na Câmara

Texto aprovado proíbe a divulgação dos levantamentos na semana anterior à eleição; teto para doação também passa em comissão

Por: Isadora Peron

 

Isadora Peron / BRASÍLIA

 

A comissão da Câmara que discute uma das propostas da reforma política aprovou ontem o texto-base de um projeto de lei que prevê, entre outros itens, um teto para doações de campanhas e restrições à divulgação de pesquisas eleitorais. O texto, de autoria do deputado Vicente Cândido (PT-SP), proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais na semana anterior à eleição. Hoje, os levantamentos podem ser divulgados até no dia da votação.

A medida já foi discutida em outras tentativas de reforma política, mas nunca chegou a ser aprovada. “Infelizmente, há muitas pesquisas que não refletem a realidade. Acho que a nova regra consegue aliar bem a liberdade de expressão, mas sem que na véspera da eleição uma pesquisa influencie o resultado da eleição”, disse o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

Os deputados ainda vão analisar destaques ao texto, o que pode alterar o projeto antes de ele ir a plenário. As novas regras para pesquisas eleitorais, no entanto, parecem ter alcançado consenso entre os integrantes do colegiado.

Além disso, o projeto também obriga os institutos de pesquisas a divulgar informações sobre o contratante e as pesquisas pelo menos dez dias antes da publicação. Hoje, esse prazo é de cinco dias de antecedência. Partidos ou o Ministério Público também poderão questionar na Justiça o registro de pesquisas de opinião que não seguirem o que determina a nova lei.

Para a diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari, a aprovação de uma restrição para pesquisas eleitorais “é um cerceamento de informação para o eleitor”. Segundo Márcia, a decisão piora a legislação vigente. “Como vão fazer para controlar a internet? Isso não pode dar certo. E se a pesquisa for divulgada em outro país?”, questionou Márcia, que espera que a restrição seja derrubada no plenário.

O projeto aprovado na comissão também estabelece um teto para a doação de pessoas físicas. Pelo texto, cada pessoa pode doar até 10% de sua renda do ano anterior para cada cargo, limitado a dez salários mínimos.

 

Brecha. A comissão também aprovou no texto-base uma brecha para facilitar a criação do fundo público para financiamento de campanha. O projeto aprovado pela comissão tem como objetivo regulamentar os pontos da PEC da reforma política que está sendo analisada no plenário. O texto, por exemplo, define as regras para distribuição dos recursos do novo fundo eleitoral.

Cândido, do PT, disse durante a reunião da comissão que havia um “acordo” para “retirar ou modificar” o texto caso a PEC fosse rejeitada. Questionado pelo Estado após a reunião, no entanto, o petista admitiu que o projeto de lei é um “plano B” caso a emenda à Constituição que cria o fundo não seja aprovada.

Ontem, no plenário, deputados adiaram a votação da PEC que altera o sistema eleitoral e cria um fundo eleitoral para bancar campanhas a partir de 2018. / COLABOROU GILBERTO AMENDOLA

 

Reforma. Comissão analisa relatório do deputado Vicente Cândido (na mesa, ao centro)

 

Críticas

“Como vão fazer para controlar a internet? Isso não pode dar certo. E se a pesquisa for divulgada em outro país?”

Márcia Cavallari

DIRETORA EXECUTIVA DO IBOPE

 

 

 

Projeto libera bingo e rifa para partido arrecadar dinheiro

Por: Isadora Peron

O projeto de lei que traz novas regras para o sistema políticoeleitoral aprovado ontem em uma comissão da Câmara dos Deputados autoriza os partidos políticos a realizar sorteios, bingos, rifas, loterias e outros eventos para arrecadar dinheiro.

A proposta polêmica faz parte do texto-base aprovado pelo colegiado. Um destaque apresentado pelo PSOL propõe retirar essa parte do projeto e deve ser analisado hoje. “Somos contra essa proposta. Abrir essa janela é muito ruim, é incontrolável. Como você vai fazer, vai comunicar à Justiça Eleitoral cada bingo? É uma proposta extremamente vaga”, criticou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

O relator do projeto, Vicente Cândido (PT-SP), disse que incluiu a ideia no relatório a pedido de “presidentes de partidos”. Ao longo da tramitação, Vicente foi pressionado a retirar a proposta do texto, mas não recuou. / I.P.