O globo, n.30760 , 25/10/2017. PAÍS, p. 6

STF ‘solta e ressolta corruptos poderosos’

GUSTAVO SCHMITT

DIMITRIUS DANTAS

 

 

Procurador Deltan Dallagnol afirma que há risco de ‘enorme retrocesso’

“A ideia não é fazer campanha do voto limpo, mas usar o pacote como instrumento para renovação do Congresso”

Deltan Dallagnol

Procurador da República

Sem esconder a irritação com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) favoráveis a réus da Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação, criticou ontem ministros que, segundo ele, “soltam e ressoltam” corruptos poderosos. Ele disse ainda que a postura de ministros do Supremo contribui para o desânimo da população em relação à luta contra a corrupção.

— Dinheiro continua circulando em malas anos depois do início da Lava-Jato. Regras são gestadas no Congresso para beneficiar políticos. Ministros do Supremo soltam e ressoltam corruptos poderosos. Regras estão sendo gestadas no Supremo e implicarão enorme retrocesso na luta contra a corrupção — disse Deltan durante o evento organizado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas e pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

O procurador negou que a força-tarefa adote discurso salvacionista. Segundo ele, a Lava-Jato é um ponto fora da curva no combate à corrupção, uma vez que, diz Deltan, 97 em cada 100 casos de corrupção no país terminam impunes.

Para Deltan, “é preciso ir além da Lava-Jato”. O procurador defendeu abertamente que os eleitores escolham candidatos favoráveis a um pacote anticorrupção. Deltan citou que entidades civis estão se organizando para criar uma nova série de propostas para mudar as regras de combate aos crimes contra a administração pública.

— A estratégia não é mais colher assinaturas. A estratégia agora é escolher senadores e deputados federais que tenham um passado limpo, que tenham compromisso com os valores democráticos e apoiem esse projeto anticorrupção — disse.

Durante o debate, promotores italianos convidados citaram que, após a operação Mãos Limpas, alguns dos políticos investigados que escaparam da investigação tiveram um desempenho eleitoral melhor. Deltan afirmou que está mais preocupado com as eleições para deputado federal e senadores, e aproveitou para tornar pública uma iniciativa de entidades civis em torno de um novo pacote anticorrupção para tramitar no Congresso.

 

SEQUÊNCIA DAS DEZ MEDIDAS

De acordo com o procurador, grupos de instituições estão planejando uma campanha anticorrupção para 2018, que envolveria o lançamento desse pacote contra crimes de corrupção que promova “a integridade no âmbito público e privado”.

— Esse pacote aproveita grande parte das dez medidas contra a corrupção e vai além, promovendo regras que melhoram o compliance, melhoram transparência, melhoram licitações, sistema eleitoral — disse o procurador.

Em 2018, após o lançamento desse pacote, a proposta é que essas entidades estejam à frente de outra campanha para incentivar o voto em pessoas que se comprometam com o projeto anticorrupção.

— A ideia não é promover uma nova campanha do voto limpo, mas usar esse pacote como instrumento para renovação do Congresso, para que possamos ter um Congresso plural que represente nossas diferenças — disse.