O globo, n.30760 , 25/10/2017. PAÍS, p. 7

Defesa de Lula leva tabelião para entregar recibos

CHICO PRADO

 

 

Ministério Público Federal contesta autenticidade dos documentos que comprovariam pagamento de aluguel

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ontem, acompanhada de um tabelião, os recibos originais do aluguel do apartamento vizinho à cobertura onde mora o petista, em São Bernardo do Campo (SP).

A autenticidade dos documentos foi contestada pelo Ministério Público Federal (MPF). O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, recebeu o profissional em seu escritório, onde os documentos foram avaliados e uma ata de fé pública foi lavrada.

Ao falar de outros pedidos feitos pela defesa, o defensor do ex-presidente acusa o juiz Sergio Moro de suposto tratamento diferenciado dispensado ao seu cliente.

— Estamos buscando que o juiz Sergio Moro dê o mesmo tratamento, tanto em prazo como em paridade de armas — afirmou o advogado de Lula.

O petista é investigado pelo recebimento de valores provenientes de contratos da Petrobras. Segundo o MPF, o imóvel teria sido parte da propina paga pela Odebrecht ao ex-presidente. Além dos recibos, a defesa de Lula entregou uma carta que teria sido escrita pelo empresário Glaucos da Costamarques, em 3 de janeiro deste ano, para a exprimeira-dama Marisa Letícia.

 

ASSINATURAS NO MESMO DIA

O texto trata de mudanças na conta bancária para pagamento do aluguel. Segundo o advogado, Glaucos não fez referência a aluguéis atrasados ou débitos na carta.

Em setembro, o GLOBO mostrou que Glaucos, dono do apartamento alugado para o ex-presidente em São Bernardo, disse ter assinado, de uma vez só, todos os recibos de aluguel referentes a 2015.

Os documentos teriam sido assinados por Costamarques quando ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em novembro daquele ano. A defesa de Lula apresentou 26 comprovantes de aluguel entre agosto de 2011 e novembro de 2015, todos com a letra do empresário.

 

SEM REGISTROS NO HOSPITAL

Segundo a defesa de Costamarques, em novembro de 2015 os recibos foram levados ao hospital primeiro por Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, e depois pelo contador financeiro João Muniz Leite. Isso teria acontecido após a prisão do primo do empresário, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

O Hospital Sírio-Libanês, no entanto, reafirmou em ofício enviado à 13ª Vara Federal em Curitiba, na última sexta-feira, não haver registros da entrada ou internação na unidade do advogado de Lula durante o segundo semestre de 2015.

Foi a segunda vez que o juiz Sergio Moro solicitou informações ao hospital de São Paulo para checar detalhes do que disse Glaucos da Costamarques em depoimento feito à Justiça.