Correio braziliense, n. 19837, 14/09/2017. Política, p. 4.

 

Mais um Batista atrás das grades

Renato Souza

14/09/2017

 

 

A prisão do executivo Wesley Batista, presidente da JBS, deixou a empresa sem comando. Apesar de ter começado um plano de contingência há algumas semanas, prevendo possível vacância no cargo mais importante da companhia, nenhum nome foi escolhido para a função. As sondagens para escolher um substituto na direção do frigorífico começaram a pedido do BNDES. Até o momento, três nomes são cotados para substituir Wesley: Gilberto Tomazoni e Tarek Farahat, ambos já atuantes no grupo J&F, e Cledorvino Belini, ex-presidente da Fiat.

Wesley foi preso por determinação da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, no âmbito da segunda fase da Operação Tendão de Aquiles, da Polícia Federal (PF). Ele é acusado, junto com seu irmão, Joesley Batista, de terem lucrado com a venda de dólar futuro dias antes de fecharem acordo de delação premiada com o Ministério Público. Joesley também foi alvo de mandado de prisão, mas já se encontra em reclusão na Superintendência da PF, em Brasília.

De acordo com a corporação, a JBS evitou a perda de até R$ 138 milhões com as operações no mercado financeiro. Segundo as investigações, sabendo da turbulência que seria o anúncio da delação para a econômico nacional, os irmãos Batista usaram a informação privilegiada para proteger o capital da empresa, o que é considerado crime. Esse tipo de manobra contra o mercado de câmbio é chamado de insider trading.

Entre os indicados para a presidência da empresa, o favorito é Tomazoni por conta de já ter assumido a Sadia. No entanto, sua resistência para ocupar o cargo fez a empresa pensar em outras possibilidades. Farahat é o atual presidente do conselho de administração da JBS e já dirigiu a P&G. Já Belini tem uma larga experiência, considerada bem-sucedida, na Fiat. Mas pesa contra ele o fato de a Fiat ser investigada na Operação Zelotes por supostamente ter comprado medidas provisórias. Uma fonte ligada ao conselho executivo da JBS afirmou ao Correio que os acionistas se reuniram na tarde de ontem, mas não chegaram a consenso sobre o novo presidente. A maioria dos presentes preferiu aguardar os desdobramentos da Justiça.

O delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, que integra a investigação policial sobre a empresa, apontou que as ações de venda de dólar futuro da JBS começaram no final de abril e foram até 17 de maio deste ano. Ele destacou que os atos dos irmãos Batista abalaram a credibilidade do mercado financeiro. “As vítimas não foram só os acionistas da JBS, mas, em um contexto mais amplo, a vítima é o próprio país em que vivemos, os crimes abalaram a confiança do mercado. O grande prejudicado nessa prática criminosa deles é o próprio Brasil”, afirmou o delegado.

Como a prisão de Wesley é preventiva, não tem prazo para terminar. Joesley Batista foi preso no domingo (10), acusado de tentar interferir no trabalho da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele é investigado por ter atuado para acelerar um acordo de delação premiada para não ser preso. Para isso, ele teria se aproximado do ex-procurador da República Marcelo Miller, que também é investigado. A prisão envolvendo o acordo de colaboração é de cinco dias. No entanto, com esse novo pedido de reclusão, ele fica preso por tempo indeterminado.

 

“Colaboração”

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Wesley Batista, criticou a prisão e disse que seu cliente estava colaborando com a Justiça. “A investigação corre há meses, com plena participação dos investigados. Não há um elemento que sustente essa prisão, que, além de ilegal e arbitrária, coloca em descrédito o instituto da colaboração”, sustentou o advogado Bottini. Wesley está preso na sede da Polícia Federal da capital paulista.

O jurista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, que faz a defesa de Joesley, protocolou um pedido de relaxamento da prisão no Supremo Tribunal Federal (STF). “Os irmãos Wesley e Joesley Batista fizeram delação e entregaram centenas de documentos, assumiram inúmeros crimes e tiveram o benefício da imunidade total, pois a efetividade da delação foi considerada absolutamente perfeita. A prisão surpreende e causa indignação pois é absolutamente desnecessária. Eles sempre se colocaram à disposição do MP e do Judiciário. Se existisse qualquer hipótese de “insider trading”, eles certamente teriam incluído os fatos na delação para obterem a imunidade”, destacou.

Em nota, o BNDES defendeu a eleição de um novo CEO para a JBS, mediante os problemas judiciais enfrentados pelo frigorífico. “Para o BNDES, qualquer que seja o desenrolar desses fatos, contribuiria para o melhor interesse da companhia, e para a sua preservação e sustentação, o início de uma renovação de seus quadros estatutários, inclusive com a abertura de um processo seletivo para a escolha de um novo CEO para a empresa em caráter definitivo. Independentemente do ocorrido hoje, o

BNDES (detentor de 21,3% do capital da empresa por meio de sua subsidiária de participações, a BNDESPAR) mantém sua posição em relação à realização da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para deliberação acerca das medidas a serem tomadas”, informou o documento.