Correio braziliense, n. 19838, 15/09/2017. Política, p. 4.

 

Prisão preventiva e fim de acordo

Renato Souza

15/09/2017

 

 

A situação de Joesley Batista, dono do grupo J&F, se complica mais a cada dia. Desta vez, uma decisão do Ministério Público Federal (MPF) pode levar a um caminho sem volta, com a prisão permanente do executivo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a revogação total dos benefícios oferecidos a ele, em decorrência de um acordo de colaboração, sob alegação de obstrução de Justiça. Apesar da medida, o PGR solicitou que sejam mantidas as provas obtidas durante o processo. A decisão caberá ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, Fachin determinou a conversão da prisão de Joesley e de Ricardo Saud, executivo do grupo, de temporária para preventiva, atendendo a pedido de Janot. O magistrado justificou haver receio de que, em liberdade, eles destruam ou ocultem provas.

A informação sobre a suspensão dos benefícios chegou por volta das 15h de ontem, quando Joesley e Saud estavam na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, se preparando para prestar depoimento. Por conta disso, de acordo com a defesa, eles decidiram manter silêncio. Em depoimento anterior, Joesley afirmou ter mais uma gravação envolvendo políticos que pode interessar à Justiça. No entanto, só se comprometeu a entregar caso consiga novos benefícios em negociação com os procuradores.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), a suspensão do acordo ocorreu porque Joesley e Saud omitiram informações. Em decorrência da perda do perdão, Janot pede que o dono do J&F seja denunciado por obstrução de Justiça. No documento, o PGR solicita que a denúncia seja desmembrada entre quem tem foro privilegiado e quem não tem. Nesse caso, Joesley seria julgado por Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. “É importante que os membros da organização criminosa sem foro por prerrogativa de função perante o Supremo Tribunal Federal sejam julgados por um Juízo único, no caso, a 13ª Vara Federal de Curitiba”, diz Janot na denúncia.

O advogado de Joesley, Antônio Carlos Almeida Castro, conhecido como Kakay, afirmou receber “com perplexidade” a nova denúncia contra seu cliente. Ele criticou o que chamou de rescisão unilateral do contrato de delação premida. “Recebi essa informação com perplexidade e indignação. O doutor Janot, já em vias de deixar o cargo, tratou de usurpar a competência do Supremo Tribunal Federal ao querer rescindir unilateralmente o contrato homologado pelo ministro Edson Fachin. Ao fazerem a delação, meus clientes acreditam na boa-fé do Estado”, destacou o jurista.