Correio braziliense, n. 19839, 16/09/2017. Política, p. 4.

 

Joesley se diz vítima

Renato Souza

16/09/2017

 

 

O empresário Joesley Batista queixou-se do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em depoimento que prestou ontem na 6ª Vara de Justiça Federal de São Paulo. Ele participou de uma audiência de custódia relacionada a sua prisão preventiva, que não tem tempo para terminar. O juiz João Batista Gonçalves decidiu mantê-lo detido por “conta da facilidade que Joesley tem de sair do Brasil se quiser”. A audiência não analisou o processo, mas sim em que condições ocorreu a prisão.

Joesley está preso por conta de uma ação na qual ele e o irmão, Wesley Batista, são acusados de usar informações privilegiadas para obter vantagens no mercado financeiro. Em depoimento, ele acusou o procurador Rodrigo Janot de “agir com covardia”. O empresário se referiu ao pedido da rescisão do acordo de delação premiada encaminhado pelo Ministério Público Federal (MPF) ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). “O procurador foi muito questionado pelo motivo da nossa imunidade. Acho que foi um ato de covardia por parte dele depois de tudo que fizemos, depois de tudo que entregamos de prova”, declarou Joesley em depoimento.

Mesmo se tratando de um processo que julga outra causa, ele insistiu em falar sobre a suspensão dos benefícios adquiridos no acordo com os procuradores. “Eu fui mexer com os poderosos, com os donos do poder, e estou aqui agora. Nós fizemos a maior, a mais importante colaboração da história”, completou. Ao ser questionado pelo magistrado sobre o motivo das reclamações, mesmo estando ali para depor sobre fraudes no mercado financeiro, ele alegou que foi a única oportunidade que encontrou para falar sobre o assunto.

Sobre as acusações de ter obtido vantagens com venda de ações e nas negociações de dólar futuro, ele alegou que as operações são rotineiras e não sofreram alterações por conta do acordo de delação premiada. O Ministério Público acusa Joesley de ter orientado ações financeiras da JBS, por saber que a notícia de que os executivos da empresa fecharam um acordo de colaboração com a Justiça seria capaz de influenciar queda na bolsa de valores e no mercado de câmbio. Esse tipo de manobra é chamada de insider trading.

A peça dos procuradores acusa da JBS de lucrar R$ 100 milhões com as manobras e evitar perdas de R$ 160 milhões. “Todas as operações foram naturais de curso, natural da empresa. Não teve nenhum insider. Estou tranquilo em afirmar que faz parte da rotina da empresa”, disse ele durante audiência.O juiz decidiu que, por conta do poder econômico, Joesley tenderia a fugir para o exterior, além de ser uma ameaça à estabilidade do mercado financeiro.

A decisão seguiu orientação do Ministério Público. O advogado Pierpaolo Bottini, que faz a defesa do empresário, alega que a prisão preventiva não poderia ser determinada, pois se baseia em provas apresentadas pelo próprio delator. “Não há nenhum elemento novo que justifique essa prisão, todos os elementos que foram usados para decretar a prisão já eram de conhecimento do Ministério Público e do juiz há meses e nunca foi decretada essa prisão. Esse crime tem pena mínima de um ano. É a única pessoa no Brasil presa por conta de acusações como essa”, disse o advogado.  Wesley, também está preso em São Paulo.