Título: Inflação avança para 0,56%
Autor: Ressel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2012, Economia, p. 18

Alimentos e transportes mantiveram ritmo de elevação e pressionaram o IPCA em janeiro

Alimentos, bebidas e transporte foram os grandes vilões do aumento da inflação oficial em janeiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avançou para 0,56% no mês passado, acima do percentual de 0,50% registrado em dezembro e abaixo dos 0,83% verificado no mesmo mês de 2011. A alta acumulada nos últimos 12 meses é de 6,22%.

A gerente de pesquisa do IBGE, Irene Maria Machado, destacou que alimentação e transportes são os itens com maior peso na composição do índice, justamente os que tiveram as maiores altas. Subiram, respectivamente, 0,86% e de 0,69% no mês passado. A variação dos preços dos produtos alimentícios e de bebidas, no entanto, ficou abaixo da verificada em dezembro (1,23%), graças à menor pressão de itens de destaque na cesta do brasileiro, como a carne, que ficou 0,64% mais cara no mês passado, depois de uma alta forte de 4,11% em dezembro.

"Essa desaceleração da alta deveu-se à queda na demanda e à substituição por produtos como aves e peru, que costumam ficar mais baratos após as festas de fim de ano", avaliou a economista-chefe da Icap Brasil Corretora de Valores, Inês Filipa. Já o feijão carioca e a cenoura lideraram as elevações entre os alimentos. Subiram 15,06% e 11,29%, respectivamente.

"O IPCA de janeiro ficou abaixo do registrado no mesmo período de 2011 e isso é positivo. Indica que a inflação deste ano deverá ser menor do que os 6,5% registrados ano passado", comentou o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. A mesma opinião é compartilhada por Inês Filipa, da Icap. "A inflação acumulada em 12 meses já está menor do que a do ano passado, o que é um sinal de desaceleração", comentou. Segundo ela, o aumento do IPCA ficou "em linha com as expectativas do mercado", mas não com a dela, que esperava uma alta de 0,53%. "Foi justamente a alta nos custos de transporte que surpreenderam", avaliou. O resultado também ficou abaixo das projeções do Banco Bradesco, que atribuiu a alta às pressões no setor de serviços.

Reajustes A gerente de pesquisa do IBGE lembrou ainda que os reajustes das passagens de ônibus urbanos, como ocorreu em São Paulo, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, foram um dos que mais contribuíram para a alta do IPCA de janeiro. Na média, de acordo com dados do instituto, essas tarifas subiram 2,54% no mês passado. "Em fevereiro, há outros a caminho", alertou. Ainda são esperados os aumentos de 5,55% em Porto Alegre e de 7,5% em Recife. Outros aumentos de tarifas que devem impactar o índice em fevereiro são as dos ônibus intermunicipais de São Paulo e de Belo Horizonte e as de trem no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Outro item que deverá pressionar os preços medidos pelo IPCA de fevereiro, de acordo com a gerente de pesquisa do IBGE e o professor da Trevisan, é a educação. "Também teremos impacto no IPCA devido aos reajustes de mensalidades escolares esperados em fevereiro", acrescentou Irene. "O aumento desse custo das escolas já foi sentido em dezembro. Agora, fevereiro é o mês em que os pais compram uniformes e material escolar", lembrou Alcides Leite. Irene destacou que alguns itens de papelaria já tiveram alta nos preços entre dezembro e janeiro. Livros, por exemplo, subiram entre 0,98% e 1,27% no período. Os artigos de papelaria, entre 0,9% e 1,67%.

Acima da meta A tendência é de o ritmo dos preços não avançar na mesma velocidade da registrada no ano passado devido ao menor crescimento da economia. "A inflação deste ano deverá ficar abaixo dos 6,5% registrados no ano passado, mas ainda assim acima da meta de 4,5% estipulada pelo Banco Central", acredita Leite, da Trevisan.

"A inflação foi alta em 2011 e corroeu boa parte dos ganhos dos trabalhadores brasileiros e isso deverá ajudar a reduzir o consumo interno este ano", destacou. Leite estima que o IPCA deste ano deverá ficar entre 5,5% e 6%. O economista sênior do Banco Espírito Santo (BES), Flávio Serrano, prevê alta no IPCA acima da meta neste ano, chegando a 5,4%.

Novo cálculo Janeiro é o primeiro mês em que os índices de preços são calculados com uma nova ponderação dos itens que compõem a cesta. O peso dos transportes foi o que mais aumentou, passando de 18,69% para 20,54% na composição do IPCA. Foi mantida a faixa de renda das famílias pesquisadas (de 1 a 40 salários mínimos), mas a que compõe o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como base para os reajustes salariais, passou de seis para cinco salários mínimos mensais. A economista-chefe da Icap Brasil Corretora de Valores, Inês Filipa, aprovou: "O modo de consumo é dinâmico e o aumento da renda do brasileiro tem modificado os hábitos", afirmou.

Deflação em prévia do IGP-M A primeira prévia de fevereiro do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas, ficou negativa em 0,10%. As maiores quedas no período foram do suco de laranja (16,56%), aves (7,33%), mandioca (2,81%) e soja em grão (0,28%). Para o consumidor, o recuo nos preços do tomate foi um dos mais expressivos — saiu de uma alta anterior de 17,88% para redução de 5,32%.