Correio braziliense, n. 19831, 08/09/2017. Política, p. 3

 

Terreno seria "fatura exposta' para o PT 

08/09/2017

 

 

A cada novo trecho divulgado do depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro, a situação dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff se complica. Em mais um vídeo ontem, Palocci disse que aconselhou Lula a receber o terreno do Instituto Lula, avaliado em R$ 12 milhões, como doação formal, para evitar uma “fratura exposta desnecessária” para o PT. Segundo o petista, isso seria uma maneira de assegurar que as investigações sobre as “relações delituosas” entre o partido e a Odebrecht não prejudicassem ainda mais a imagem da legenda. O “Italiano” nas planilhas da Odebrecht também acusou Lula de ter recebido R$ 300 milhões em propina para beneficiar a construtora nos governos dele e de Dilma Rousseff.

Palocci foi preso na Operação Omertà, desdobramento da Lava-Jato, em setembro de 2016, e condenado por Moro a 12 anos e dois meses de prisão. Desde então, ele vem tentando fechar um acordo de delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF), mas resistia em entregar o companheiro de partido. Entretanto, recentemente, mudou de ideia e resolveu confessar os crimes em interrogatório à Justiça Federal. Além de citar a propina milionária paga pela Odebrecht ao ex-presidente, Palocci também contou que a empreiteira financiou a compra do terreno onde funciona Instituto Lula; de um apartamento em São Bernardo (SP); e do triplex no Guarujá, Santos (SP) — que Lula nega ser proprietário.

O ex-ministro afirmou ter conversado com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, sobre a compra do terreno. “O Instituto não vai ser feito para receber doações de empresas? Para pintar de cores melhores as doações lícitas e ilícitas? Não é para isso que está sendo feito esse Instituto? Então por que vamos inaugurá-lo já com uma ilegalidade desse tamanho? Vão comprar agora em nome de vocês?”, disse em depoimento na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Decepcionado

Apesar de ter aparentado tranquilidade nas redes sociais no dia em que o ex-ministro Antonio Palocci deu declarações a Sérgio Moro, Lula disse a amigos próximos que está “muito decepcionado” com a conduta do companheiro, com quem ele conviveu nos últimos 30 anos. Palocci atacou o petista de maneira tão contundente que, em uma parte do depoimento, ele chamou de “pacto de sangue” a história que envolvia o repasse de R$ 300 milhões da Odebrecht para o PT e para o próprio Lula em troca de favores durante os governos petistas.

Integrantes do PT disseram ao Correio que não é apenas o ex-presidente que está desapontado com as declarações do petista, mas o partido como um todo. “Ninguém esperava essa reação”, diz um senador da sigla. Além de ter comentado com amigos em uma conversa, o ex-presidente teria feito ligações para Brasília e para o Rio de Janeiro, compartilhando o desgosto com alguns aliados.

Na manhã de ontem, a ex-presidente Dilma Rousseff declarou-se contrariada com o relato de Palocci, no qual ela também é citada, qualificando-o como “mentira”. Em nota, reagiu às declarações informando que quando aponta o envolvimento dela “em supostas reuniões de governo para tratar de facilidades à empresa Odebrecht, tais encontros ou tratativas jamais ocorreram”. “Relatos de repasses de propina também são uma mentira.” Segundo Dilma, todo o conteúdo “é uma ficção”. “O episódio que cita um inacreditável benefício à Odebrecht pelo governo Dilma durante o processo de concessões de aeroportos mostra que o senhor Antonio Palocci mente”, finalizou a ex-presidente.

Alckmin e Doria criticam Lula

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), classificou como “extremamente grave” o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, projetando a disputa pela Presidência da República no ano que vem, Alckmin considerou que a polarização entre PSDB e PT ficou no passado. O prefeito de São Paulo, João Doria, afirmou, no entanto, que o depoimento mostra que o ex-presidente é um “criminoso”. “O depoimento é decisivo e sepulta qualquer imagem de alguém que pretenda seguir carreira pública dizendo ser honesto”, afirmou o prefeito.

De “laranja” a “pato”
O empresário Demerval de Souza, dono da construtora DAG, que confirmou ter comprado o terreno em São Paulo para a sede do Instituto Lula, disse ter entrado como ‘um laranja’ e acabou sendo ‘um pato’. Segundo o empreiteiro, o petista desistiu do negócio e ele teve de receber R$ 7,2 milhões por meio de uma ‘triangulação’ envolvendo a Odebrecht e outra empresa. Em depoimento, ele afirmou que comprou o terreno onde seria a sede do Instituto a pedido da Odebrecht e alegou ter combinado um adiantamento de R$ 8 milhões, em face da demora que teria para obter tal retorno.

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PF identifica digitais de Geddel em dinheirama

08/09/2017

 

 

Novos elementos colhidos pela Polícia Federal (PF) mostram ligações do ex-ministro Geddel Vieira Lima com as malas contendo R$ 51 milhões encontradas em um apartamento em Salvador. As provas complicam ainda mais a vida do ex-chefe da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer. Segundo a corporação, as digitais de Geddel estavam no imóvel onde houve a busca e no próprio dinheiro apreendido. A PF também falou com uma segunda testemunha que teria confirmado o empréstimo do espaço ao ex-ministro, corroborando a versão do proprietário do imóvel. Em regime de prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, a polícia teme uma fuga de Vieira Lima após a descoberta das malas de dinheiro.

As informações foram divulgadas ontem pelo jornal O Globo. A origem dos R$ 51 milhões ainda não foi desvendada. A suspeita da Polícia Federal é de que parte do montante seja oriunda de propinas da época em que Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. A verba teria sido repassada para que o político baiano liberasse linhas de crédito do FI-FGTS às empresas. O caso está sendo investigado pela Justiça Federal em Brasília.

Em 3 de julho passado, o ex-ministro foi preso preventivamente, acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Cui Bono, desmembramento da Lava-Jato. Após 10 dias na cadeia, Geddel, por meio de decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), ganhou o direito de cumprir prisão domiciliar, deixando o Complexo Penitenciário da Papuda. Hoje, o ex-ministro cumpre pena em seu apartamento em Salvador sem tornozeleira eletrônica porque o dispositivo está em falta no sistema carcerário da Bahia.

“Bunker”

Os novos indícios que surgiram na Operação Tesouro Perdido, que resultou na apreensão dos R$ 51 milhões, podem motivar uma nova prisão de Geddel, independentemente do benefício obtido por ele no TRF-1. Para esse caso específico, tanto a Polícia Federal quanto o Ministério Público Federal (MPF) podem fazer pedido à Justiça Federal em Brasília. Na última terça-feira, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento de número 201 de um edifício residencial de Salvador que ficou conhecido como o “bunker” de Geddel, onde foi encontrada a quantia em dinheiro vivo. A contagem das cédulas guardadas em oito malas e seis caixas demorou 14 horas. Trata-se da maior apreensão em dinheiro vivo do Brasil.