Título: Um só alvo: Chávez
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2012, Mundo, p. 27

Oposição se une para escolher, amanhã, o adversário do presidente nas eleições de outubro

Para continuar com a "revolução" socialista na Venezuela e se manter no cargo que ocupa há mais de uma década, o presidente Hugo Chávez enfrentará neste ano eleitoral, além da batalha contra o câncer, uma oposição unificada e determinada a tirá-lo do poder. Desarticulados há anos, os rivais optaram por uma chapa única para tentar vencê-lo nas eleições de 7 de outubro e escolherão amanhã seu representante, durante as primárias. Segundo analistas e cientistas políticos venezuelanos consultados pelo Correio, a manobra evidencia amadurecimento e preparo dos adversários, mas poderá não ser suficiente para impedir que Chávez caminhe para seu terceiro mandato consecutivo.

Cinco nomes disputarão as primárias inéditas da Mesa da Unidade Democrática (MUD) — a coalizão que agrupa os partidos de oposição. Dois são considerados favoritos: os governadores de Miranda, Henrique Capriles Radonski, e de Zulia, Pablo Pérez. O primeiro lidera com folga as pesquisas de intenção de voto e conta com o aval de um sexto candidato, o ex-prefeito de Caracas Leopoldo López, que desistiu da corrida no último dia 24. As primárias serão um termômetro sobre o apoio da população aos opositores, que iniciaram uma campanha além das fronteiras, em busca do voto dos expatriados. Cerca de 1,2 milhão de venezuelanos vivem fora do país — entre 450 mil e 600 mil têm idade para votar.

Desde as eleições de 2010, quando Chávez perdeu a maioria na Assembleia Nacional e se viu obrigado a negociar com a oposição, seus adversários perceberam que uma aliança aumentaria as chances de desafiar o líder. O diretor do Centro de Investigações em Políticas Comparadas da Universidade dos Andes (Mérida), Alfredo Ramos Jiménez, explica que há uma disputa grande entre os candidatos, mas o acordo estabelecido entre eles, de apoio total ao vencedor, é inédito. "Trata-se de um motivo para que o presidente fique preocupado", diz.

Mesmo mais preparada, a oposição enfrenta desafios. Na opinião do cientista político Oscar Reyes, da Universidade Católica Andrés Bello (Caracas), os adversários de Chávez não têm um discurso forte o bastante para derrotá-lo. "Não há um candidato que possa vencer este tremendo gladiador, com todas as loucuras que ele inventa", afirma. Segundo as últimas pesquisas, Chávez figura como o político mais popular da Venezuela. O professor de história da América Latina da Pomona College (Claremont, California) Miguel Tinker Salas, especialista em Venezuela, analisa que a tentativa da oposição de alcançar novo patamar de unidade não se traduziu em um aumento de popularidade. "A oposição enfrenta o desafio de tentar convencer a população de que não derrubará as políticas sociais chavistas."

Favoritismo Muitos na oposição veem o candidato Pablo Pérez como o favorito, por seu apelo entre os setores desprestigiados da sociedade. Radonski, líder nas pesquisas, é o preferido de segmentos das classes média e alta que se autoproclamam oposicionistas. "A dificuldade para Radonski é mostrar como alguém de um meio privilegiado será capaz de alcançar a maioria pobre", disse Tinker Salas. Os antichavistas enfrentam uma forte campanha do governo para dissuadir a aliança opositora. Jiménez explica que o plano se baseia em tentar convencer o povo de que o melhor é deixar como está e, assim, garantir a continuidade do "grande financiador de empregos" da Venezuela.

A doença do presidente foi um golpe para o país. Em junho, Chávez revelou estar com câncer. Jiménez vê a falta de clareza sobre o tema como uma estratégia para não afetar a campanha chavista. "Vamos viver meses de muita indecisão. Mais de 80% dos venezuelanos pensam que ele está muito doente. Acho que ele não resistirá à campanha", especulou.