O Estado de São Paulo, n. 45261, 18/09/2017. Economia, p.B1

 

 

Com prisão dos filhos, fundador da JBS vai assumir presidência do grupo

Troca. Nome de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, de 84 anos, foi aceito por unanimidade no conselho, para completar o mandato de Wesley Batista, que se encerra em 2019; para a família, escolha é forma de dar estabilidade à companhia nesse momento

Por: Renata Agostini / Fernando Scheller

 

Renata Agostini

Fernando Scheller

 

Com os filhos Wesley e Joesley Batista presos, o fundador do grupo JBS, José Batista Sobrinho, de 84 anos, vai voltar à presidência da companhia. O nome foi aprovado por unanimidade em reunião do conselho de administração na noite de sábado.

O argumento da família para esse movimento é que Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, dará “estabilidade” à empresa, cumprindo o mandato de Wesley, que se encerra em 2019, no comando da JBS.

Os Batista estavam decididos a indicar para o cargo Wesley Filho, filho de Wesley. Com isso, entrariam em rota de colisão com o BNDES, dono de 21,3% das ações do grupo, que queria Gilberto Tomazoni, presidente de marcas globais da JBS, como presidente interino.

O nome do fundador surgiu, então, como uma terceira via, por sugestão da J&F, holding controladora da JBS. Para a família, seria difícil levantar argumentos contra Zé Mineiro, por se tratar de um “símbolo” no grupo e não haver acusações contra ele. A conselheira Cláudia Santos, hoje a única representante do BNDES no conselho – a outra cadeira está vaga – transmitiu a ideia ao banco, que aceitou, por ordem do seu presidente, Paulo Rabello de Castro.

Por ser jovem, Wesley Filho, de 26 anos, seria alvo de críticas, avaliou a família. José Batista Júnior, o Júnior Friboi, irmão mais velho de Joesley e Wesley, teria dificuldades em assumir o cargo por ter seus próprios negócios. Além disso, a recomendação, na semana passada, de órgão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de que Júnior seja condenado por cartel para fixação do preço da carne, em um processo de mais de dez anos, o inviabilizava, segundo uma fonte.

Wesley Filho voltará dos EUA, onde comandava a divisão de carnes da JBS USA, para ocupar o cargo de diretor estatutário da JBS. A ideia é que ele, Tomazoni e André Nogueira (presidente da JBS nos EUA) formem um grupo de “liderança de executivos” e assessorem José Batista Sobrinho.

Diante da postura beligerante do presidente do BNDES na última semana, o fato de a representante do banco ter acatado o nome de Zé Mineiro foi recebido com surpresa. A eleição traz alívio ao clã Batista, pois pacifica os ânimos num momento delicado para a empresa. A avaliação é que o BNDES perdeu armas na tentativa de afastar a família do comando. Apesar disso, o processo de arbitragem, atualmente em curso, será mantido. O BNDES quer impedir que representantes da família no conselho votem em processos para responsabilizar Wesley e Joesley Batista por prejuízos causados à JBS.

Wesley está preso desde quarta-feira, acusado de uso de informação privilegiada para lucrar indevidamente no mercado de ações e de câmbio. Joesley, presidente da J&F, está preso desde o dia 10, acusado de omitir informações em seu acordo de delação premiada. Ao contrário da JBS, no comando do conglomerado, a sucessão não deve se dar dentro da família. A ideia é que executivos da J&F passem a ocupar a diretoria.

Em nota, a companhia informou que o conselho buscará um diretor para a área financeira. “A escolha de um novo CFO (diretor financeiro) é um passo importante para fortalecer a governança”, afirmou Tarek Farahat, presidente do conselho.

 

 

 

 

 

 

 

 

Longe do comando, Zé Mineiro continuava no dia a dia da empresa

Por: Luciana Dyniewicz

 

Luciana Dyniewicz

 

A maior companhia de proteína animal do mundo nasceu em 1953, em Anápolis (GO), onde José Batista Sobrinho – cujas iniciais dão nome ao grupo JBS – comercializava gado. Conhecido como Zé Mineiro, o empresário tem hoje 84 anos e, apesar de ter passado a presidência da companhia no início da década de 80 para o filho mais velho, José Batista Júnior, o Júnior Friboi, nunca se afastou do cotidiano do grupo. Ele costuma visitar os escritórios da empresa, em São Paulo, onde mora, diariamente, e participa da tomada de decisões, segundo fontes próximas.

Agora, José Batista Sobrinho retorna ao posto de presidente para comandar a empresa em seu maior desafio nos quase 65 anos de existência: a prisão dos até então líderes da JBS – seus filhos Wesley e Joesley –, que a transformaram em uma gigante global. “Fico orgulhoso de reassumir a empresa que fundei”, afirmou o empresário em nota divulgada ontem pela assessoria de imprensa. “Tenho muita confiança no desempenho da nossa liderança, em todos os nossos gestores e nos nossos 235 mil colaboradores”, acrescentou.

 

Origem. Zé Mineiro deixou Alfenas (MG) ainda criança, quando sua família se mudou para Anápolis. Lá, abriu um açougue após sentir a necessidade de saber o peso dos bois que vendia. “Certa época, nós (ele e um irmão) compramos uma boiada gorda para vender em frigorífico. Acabamos vendendo a boiada por peça, não por peso. Nós nos preocupamos: estamos trabalhando com uma mercadoria que vale quanto pesa e não temos noção de peso. A única maneira é montar um açougue”, afirmou, em um vídeo institucional gravado em 2014.

O empresário trabalhava diretamente no abate e, em 1957, durante a construção de Brasília, passou a vender carne para os canteiros de obras das empresas que erguiam a cidade. “Esse foi um ponto alto da nossa carreira”, disse.

Ainda em vídeos da empresa, José Batista Sobrinho se define como um homem que “anda para frente”, determinado e preocupado com pontualidade. O empresário destaca que não tinha “nada mais que o nome”, mas que poucos homens trabalharam tanto quanto ele. “O sucesso da empresa é ser obstinado, trabalhar muito.”

Em 2014, ele foi citado na lista dos homens mais ricos do País elaborada pelo banco suíço UBS em parceria com a Wealth-X. De acordo com o relatório, José Batista Sobrinho e sua família tinham, à época, uma fortuna estimada em US$ 5,09 bilhões (o que equivale hoje a R$ 15,85 bilhões), o que o colocava em nono lugar no ranking.