MARIA LIMA
CATARINA ALENCASTRO
Independentemente da vitória de Michel Temer com a derrubada da segunda denúncia contra ele na Câmara, a divisão no PSDB em relação à aliança com o governo deve continuar pelo menos até dezembro. Os tucanos acreditam que a convenção nacional, marcada para o início daquele mês, irá definir a correlação de forças na legenda, através da eleição da nova Executiva Nacional e do sucessor do presidente licenciado, Aécio Neves (MG).
Os tucanos novamente saíram rachados da votação, como ocorreu na primeira denúncia, mas desta vez a leve vantagem ficou do lado da ala crítica ao governo. Os tucanos “cabeças pretas”, críticos à aliança com Temer, ganharam o apoio de três deputados que se ausentaram da primeira votação — Shéridan (RR), Pedro Vilela (AL) e Eduardo Barbosa (MG) — levando a um placar interno de 23 a 20. Além disso, a ala governista do partido teve duas defecções: Ieda Crusius (RS) e Marco Tebaldi (SC), que haviam votado com Temer, faltaram à sessão de ontem.
Com um número maior de votos tucanos pela continuidade das investigações, Temer terá que administrar a pressão de líderes do Centrão pela retirada de ministros do PSDB: Aloysio Nunes (Itamaraty), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Bruno Araújo (Cidades), a pasta mais cobiçada entre os partidos da base.
No PSDB paulista, apesar de defesa pública do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a bancada votou em peso contra o relatório de Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Apenas a deputada Bruna Furlan (PSDB-SP) votou pela rejeição da denúncia.
— É bem provável que haja pressão do Centrão, mas acho que o Temer não vai trocar os ministros, porque corre o risco de perder mais do que outros partidos podem dar — avalia o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), um dos que votaram pela continuidade da denúncia contra Temer.
Durante a votação da denúncia, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP) liberou a bancada para votar como quisesse. Ele reconheceu o racha dos tucanos, e fez questão de demarcar que o parecer do relator não tinha o carimbo do PSDB.
TASSO: RELAÇÃO FRAGILIZADA
Em seu discurso, Tripoli adiantou que votaria pela admissibilidade da denúncia. O líder tucano afirmou que, no pós-denúncia, o PSDB continuará votando em algumas matérias com o governo, mas as divergências devem continuar:
— Nós nunca deixamos de votar com os interesses do país. Nas reformas, demos mais votos que o PMDB, o partido do presidente. Mas o que não for questão programática e envolver questionamentos éticos, aí vai ter divergência.
A votação da segunda denúncia aprofundou a divisão entre os grupos de tucanos governistas e independentes, que seguem a tendência pró-rompimento do presidente interino Tasso Jeiressatti (CE) e de Ricardo Tripoli.
O antagonismo entre os governistas ligados ao presidente licenciado Aécio Neves e o interino Tasso Jeiressatti voltou a ficar flagrante. Tasso, entretanto, admite ser inviável rediscutir a questão do rompimento agora, mas diz que a relação está muito fragilizada:
— Minha opinião é que essa relação já está bastante abalada, é grande a divergência interna, mas não existe viabilidade de um rompimento, não há maioria suficiente para isso. Na convenção, pode se chegar a uma posição majoritária, vamos ficar sabendo quem é quem e o que quer o PSDB.