Correio braziliense, n. 20007, 01/03/2018. Política, p. 4

 

Entrevista - Carlos Marun

01/03/2018

 

 

"VEJO BOQUIRROTOS NA PGR" » Ao CB.Poder, ministro critica "Cagressividade" de procuradores e reprova pedido para inclusão de Temer em investigações da Odebrecht

Em entrevista, ontem, ao programa CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, fez duras críticas à postura da Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso do ex-diretor-geral da Polícia Federal Fernando Segóvia. Segundo ele, a PGR é incoerente ao pedir que Segóvia se cale, enquanto seus membros falam sem filtros. O ministro também reprovou a inclusão do presidente Michel Temer nas investigações da Odebrecht. O emedebista comentou ainda sobre a intervenção federal e não descartou a candidatura de Temer, embora afirme que o presidente não tem intenção de concorrer à reeleição.

A troca de comando na Polícia Federal já estava decidida antes da chegada do ministro Raul Jungmann à Segurança?

Eu entendo que não estava. Foi uma decisão dele.

O Segóvia caiu porque fala demais?

Não. Ele não é mais diretor porque o Jungmann entende que quem assumiu, Rogério Galloro, tem, neste momento, condições melhores de, com ele se relacionando, fazer o melhor trabalho.

O senhor concordou com a ação da PGR de pedir para que Segóvia se calasse no que tange ao processo contra o presidente Michel Temer?

Uma das coisas que eu prezo é a tal da coerência. Vejo a Procuradoria quase que ordenando Segóvia a ficar quieto, só que vejo os boquirrotos dentro da PGR falando o que vem à boca, aos dedos e, em relação a eles, nunca vi uma ordem para ficarem quietos. Há dois que são os destaques maiores. Eu me refiro ao próprio Dallagnol (Deltan Dallagnol), que tem se esmerado, nos últimos dias, em atuar de forma inconsequente e agressiva, e tem aquele outro, não sei se é o chefe do Dallagnol, não sei a estrutura que eles têm lá. Essas pessoas prestaram um grande serviço, a Lava-Jato prestou e ainda presta. O Moro (juiz Sérgio Moro) você não vê nisso aí, nessas fake news. O Moro tem outro tipo de postura, mas esses dois… É impressionante.

O Ministério Público faz fake news?

Eu não sei. Se critica uma entrevista concedida e se pensa em coibir essa entrevista, deveria coibir também coisas que têm sido ditas e publicadas por esses dois procuradores.

Mas os vazamentos na PGR diminuíram depois da chegada da procuradora Raquel Dodge.

A PGR já é outra coisa. Terminou aquele núcleo de conspiração. Aquilo era um QG da conspiração pela deposição do presidente Michel Temer. Esse núcleo se desfez. O vazamento era a lógica.

A procuradora, porém, voltou a colocar o presidente na investigação da Odebrecht, coisa que Rodrigo Janot (o PGR anterior) não tinha feito.

Eu até estranho pelo meu conhecimento de legalidade. Hoje, nós temos muita gente achando que pode governar a lei, que a lei não é o que diz, mas o que você interpreta com sua criatividade. Eu sou adepto da legalidade.

Qual é a ilegalidade nesse caso de o presidente ser incluído nessas investigações da Odebrecht?

É claro que o presidente, neste momento, só pode ser processado por questões do exercício do seu mandato. O que está se falando é de um jantar em que teria havido pedido de contribuição para campanha. O presidente Temer era, naquele momento, um líder partidário, e, a princípio, não existe nenhum tipo de óbice para que isso acontecesse. Tanto é que, se fosse propina, não teria sido solicitada, porque qual é a base da propina? É uma relação de troca. Você faz uma coisa ilegal que beneficia alguém e esse alguém beneficiado lhe paga por isso. A contribuição eleitoral era legal, hoje não é mais. Busca-se, nesse caso, no meu modo de ver, pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo.

As pesquisas mostram que a intervenção foi a medida mais popular do governo Temer. Se der certo, podemos prever que o presidente é um pré-candidato às próximas eleições? É uma estratégia dele?

Não. Até porque nem nós imaginávamos que a população estivesse se sentindo tão oprimida, tão vilipendiada, tão escravizada por essa criminalidade que ousava sequestrar o Brasil e tornar os brasileiros reféns. A aprovação no Rio de Janeiro é uma surpresa, nem nós imaginávamos isso.

Sendo bem-sucedida, é possível que Temer se candidate à reeleição?

A minha visão é de que a candidatura do presidente Temer passou a ser necessária, não em função da intervenção, mas porque o nosso trabalho está incompleto e corremos o risco muito forte de que alguém se eleja mentindo que a reforma da Previdência não é necessária.

Se a reforma é tão necessária, por que o governo desistiu dela?

Porque nós não conseguimos os votos necessários para a aprovação.

Mas vocês diziam o tempo todo que iam conseguir os votos. Os interlocutores do governos estavam mentindo?

Não. Nós mostramos otimismo, nunca dissemos que tínhamos os votos. Queríamos insistir e queríamos buscar. Estabelecemos um limite em fevereiro. Após o carnaval, o presidente Michel Temer me chamou, e tivemos uma conversa em que fui franco em relação às chances de aprovação. Não mentiria, mesmo entusiasta e esperançoso, mas via que os obstáculos eram muito fortes, e o maior é a proximidade das eleições.

Como o senhor se defende das acusações de desvio de R$ 16 milhões, acusação de improbidade administrativa?

Aí que eu digo por que nós precisamos de uma lei de abuso de autoridade. Essa acusação é absurda, ela me causa prejuízos imensos. É fruto de uma consideração do MP, que teria sido ilegal a terceirização dos serviços de informática da Agência Popular de Habitação do Mato Grosso do Sul durante toda a sua existência. O MP entende que não poderia ter sido terceirizado. Esses R$ 16 milhões são todo o serviço pago para as empresas de informática durante todo o período de existência da agência, que teve vários presidentes. Eu presidi durante um ano. Essa terceirização hoje nem é mais discutida, é permitida. Felizmente, quando o MP pediu o bloqueio dos meus bens, o juiz negou, dizendo que não existem nos autos provas de qualquer desvio ou superfaturamento.