O globo, n.30761 , 26/10/2017. PAÍS, p. 7

INTERNAÇÃO - TEMER SOFRE OBSTRUÇÃO UROLÓGICA E FAZ EXAMES

LETICIA FERNANDES

PATRÍCIA CAGNI

JAILTON DE CARVALHO

 

 

Presidente vai para hospital no início da tarde, é submetido a procedimento médico e recebe alta à noite: ‘Estou inteiro’, afirma

 O presidente Michel Temer passou mal na manhã de ontem e foi levado pouco depois para o Hospital do Exército, em Brasília. Aos 77 anos, Temer sentiu um forte desconforto, por conta de uma obstrução na uretra, e desceu sozinho ao anexo do Palácio do Planalto, por volta das 13h, para ser consultado por um médico de plantão, que recomendou a internação.

Temer seguiu direto para o hospital, onde foi submetido a um procedimento para aliviar a dor chamado de “sondagem vesical de alívio por vídeo”. A intervenção foi feita com anestesia local. O presidente ficou de repouso no hospital, mas teve alta ontem à noite, seguindo para o Palácio do Jaburu, onde mora.

Ao deixar o hospital caminhando, acompanhado de assessores, seguranças e da primeira-dama Marcela Temer, Temer acenou e fez sinal de positivo para os jornalistas. — Tô inteiro — disse. Temer passou a tarde de ontem realizando exames e teve acompanhamento, por telefone, do médico Roberto Kalil, que cuida de sua saúde. Chegou a ser avaliada a possibilidade de Temer ir para São Paulo — o avião presidencial ficou a postos —, o que acabou não acontecendo. Ainda não está descartada, no entanto, a ida do peemedebista à capital paulista no fim de semana.

O líder do PMDB no Senado, Raimundo Lira (PB), esteve na porta do hospital para uma “visita de cortesia” ao presidente. Entretanto, foi impedido de entrar. O parlamentar foi o primeiro aliado do presidente a chegar ao local.

— Acho que é excesso de trabalho, muito cansaço. Ele está dando o máximo para fazer o trabalho dele — disse o líder do PMDB.

Segundo informações do Palácio do Planalto, o presidente vinha sentindo um desconforto para urinar há alguns dias, mas apenas ontem a dor piorou, quando ele resolveu tomar providências. O procedimento pelo qual Temer passou é considerado “comum” em homens acima dos 70 anos.

Ministros e assessores próximos ao presidente cogitaram a possibilidade de Temer terminar de ver a votação da denúncia em seu gabinete, no Planalto, mas isso não ocorreu.

Pouco depois de o plenário da Câmara sepultar a denúncia, o presidente foi ao Twitter explicar sua situação de saúde: “Hoje tive um desconforto e fui submetido a uma série de exames. Estou bem. A orientação médica foi para que eu fique em repouso pelos próximos dias. Agradeço a todos que enviaram mensagens preocupados com minha saúde”.

A sessão de votação da denúncia contra Temer se arrastava no plenário da Câmara, quando pouco depois das duas da tarde uma movimentação frenética começou. Um dos primeiros a dar o alarme foi o deputado Delegado Francischini (SDPR). Ele saiu correndo do plenário e chegou ao Salão Verde alardeando a notícia de que o presidente tinha sofrido um problema de saúde. Enquanto o Planalto evitava confirmar, espalhava-se por toda a Câmara a mensagem de que o chefe do Executivo havia sido hospitalizado.

— Parece que estourou tudo, tudo — gritou Francischini.

Sem saber da notícia, o grupo de oposicionistas que obstruía a sessão passou pelo Salão Verde entoando uma música improvisada: “Temer, sua hora chegou”. Os rivais do presidente foram surpreendidos com a hospitalização, no momento em que convocavam jornalistas para falar da falta de quorum que naquela hora inviabilizava a votação da denúncia. Enquanto a oposição se organizava para dar uma entrevista coletiva, um dos principais expoentes da tropa de choque do governo, Carlos Marun (PMDB-MS), passava atordoado. Com cara assustada, deu o tom do desespero dos governistas:

— O que eu sei é o que presidente teve uma indisposição e foi levado ao hospital. Não sei se foi na perna, se foi no braço, não sei. Ele foi levado para que fossem feitos exames e avaliado o estado de saúde do presidente.

No plenário, a informação caiu como uma bomba. Líderes governistas ficaram alarmados e dispararam telefonemas para ministros e o gabinete de Temer, na expectativa de obter mais dados. O líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), foi o primeiro a se manifestar e chegou a dizer que Temer estava fazendo um exame já agendado. Parlamentares começaram a especular qual seria o problema, e se a sessão continuaria. Naquele momento, o governo tinha dificuldade de colocar parlamentares em plenário.

O clima exasperado só começou a ceder quando o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB ), deu explicações um pouco mais detalhadas sobre o estado de Temer:

— O presidente acaba de passar por um procedimento de rotina, temos a orientação de tocar a sessão porque ele se encontra absolutamente bem. (Colaboraram Bela Megale, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut)