O Estado de São Paulo, n. 45259, 16/09/2017. Política, p. A7.

 

'Foi covardia', afirma Joesley sobre rescisão

Gilberto Amendola/ Renata Agostini

16/09/2017

 

 

Em depoimento à Justiça, o empresário Joesley Batista classificou como “covardia” a rescisão de seu acordo de colaboração premiada com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Fui mexer com os donos do poder e estou aqui agora”, disse.

O empresário Joesley Batista classificou como “covardia” a rescisão de seu acordo de colaboração premiada determinada anteontem pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A declaração foi dada durante a audiência de custódia realizada ontem na Justiça Federal de São Paulo, que manteve a prisão preventiva do empresário dono do grupo J&F. Ele e seu irmão Wesley, que também está preso, são alvos da Operação Acerto de Contas, 2.ª fase da Operação Tendão de Aquiles, que investiga se a J&F fez uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro. Ainda ontem, o Tribunal Regional Federal da 3.ª região negou habeas corpus aos dois. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça.

“Foi covardia (do procuradorgeral da República, Rodrigo Janot) depois de tudo o que fizemos”, disse Joesley. “Estou pagando por ter delatado os donos do poder. Fui mexer com os donos do poder e estou aqui agora”, afirmou o empresário à juíza Tais Ferracini, da 6.ª Vara Criminal de São Paulo.

Anteontem, quando apresentou a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, Janot também notificou o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que estava rescindindo o contrato de delação premiada com dos representantes da J&F. A medida ainda precisa ser homologada pelo Supremo.

Desde o último domingo, Joesley e Ricardo Saud, delator e executivo da J&F, estavam presos em Brasília. O empresário deveria passar a noite na sede da Polícia Federal em São Paulo. Já Saud poderá ser transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

A reviravolta no caso J&F depois da Procuradoria-Geral de República ter acesso a áudios onde Saud e Joesley falam sobre a atuação do ex-procurador da República Marcello Miller na confecção dos acordos de delação dos dois quando ainda era membro da PGR. Os três negam terem cometidos qualquer irregularidade.

Na audiência, o executivo negou ainda as acusações que sua empresa teria lucrado na Bolsa de Valores com a delação. “As vendas das ações foram por um único e exclusivo motivo de necessidade de caixa”, diz Joesley Batista. “As vendas da ação não têm nada a ver com insider”.

Defesa. Advogados de Joesley tentam abrir uma nova frente de questionamentos jurídicos em processo reconhecidamente complexo A defesa acusou a PGR de quebrar o acordo de colaboração firmado com o empresário. A denúncia apresentada por Janot, anteontem, contra Temer incluiu Joesley e Saud. “Janot violou o acordo de colaboração firmado. O acordo ainda está valendo”, disse o criminalista Ticiano Figueiredo, que integra a defesa dos irmãos Batista.

 

 

PERGUNTAS & RESPOSTAS

 

1. Por que a delação do Grupo J&F é investigada?

A reviravolta no caso começou depois que uma gravação foi entregue pelos delatores à PGR na qual Joesley Batista e o ex-executivo do grupo Ricardo Saud falam sobre uma possível atuação do ex-procurador Marcello Miller na delação quando ainda era procurador.

 

2. Por que a PGR pediu a prisão dos delatores?

Para a Procuradoria, o acordo de delação foi violado – pelo áudio, segundo a PGR, os executivos omitiram informações e escolheram as provas que levariam ao MP. Anteontem, o ministro do STF Edson Fachin decretou prisão preventiva de Joesley e Saud por “receio” de destruição e ocultação de provas.

 

3. O que pode acontecer com o acordo da J&F?

A Procuradoria informou ao STF a rescisão do acordo, o que levará à perda de benefícios. Cabe a Fachin confirmar a rescisão. A PGR pede a homologação da rescisão dos acordos, “mantendo-se válidas as provas trazidas pelos colaboradores”.